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Biografia. Um pote de LSD no jornalismo
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Biografia. Um pote de LSD no jornalismo

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O homem dos ternos caros e claros nasceu em Richmond, na Virginia, mas começou a sua carreira em Nova York, no Herald Tribune, em 1962. Sua prosa inconfundível logo se destacou: trazia um olhar elegante e elitizado que não tinha medo de se aproximar (e de criticar) da cultura pop e das personalidades dos EUA, como um cronista do narcisismo da geração dos anos 1960 e 1970. Assim, logo passou a escrever para revistas como Harper’s e a Esquire, em que publicou alguns de seus principais textos.
 

Anos depois, seria Tom Wolfe que tentaria dar uma coesão em texto para a geração que explorou os limites das técnicas narrativas dentro da reportagem. O jornalismo literário já existia, claro, em nomes como John Hersey e Joseph Mitchell, para ficar só nos americanos, mas esse “Novo Jornalismo” era, para o autor, uma aplicação radical da ideia de que a prosa inventiva poderia ser feita dentro das redações, desde que com a apuração que a sustentasse.
 

No posfácio de Radical Chique e o Novo Jornalismo, Joaquim Ferreira dos Santos define o estilo de Wolfe, num parentesco com o jornalismo gonzo de Hunter Thompson: “Se os Beatles colocaram uma colher de LSD na música, Tom Wolfe pôs um pote no jornalismo”.
 

Em 1987, o árduo defensor da não ficção como campo literário fez a sua estreia na literatura com o romance A Fogueira das Vaidades. É uma obra, como tudo o que Wolfe tocou, satírica, sobre um ganancioso banqueiro de Wall Street que foge depois de atropelar um homem negro no Bronx. O filme foi adaptado para o cinema por Brian de Palma, com Tom Hanks no papel principal. Um livro anterior seu, a reportagem Os Eleitos (1979), seria a base para um longa dirigido por Philip Kaufman, vencedor de quatro Oscar.
 

A Fogueira das Vaidades foi sua tentativa de escrever um grande romance, nos moldes do realismo do século 19, sobre a cidade de Nova York. Fez da cidade a capital do que ele via em todas as pessoas: a busca por reconhecimento e prestígio. “Minha questão é que o status está na cabeça de todo mundo o tempo inteiro, sejam eles conscientes disso ou não”, dizia Wolfe, sem vergonha de se admitir um dândi.
 

Wolfe tinha admiradores e detratores. Norman Mailer, John Updike e John Irving criticavam sua ficção e seus exageros. O autor, sempre polêmico, respondeu a eles, os chamando de “três patetas” em um ensaio: “Deve ser irritante todos – inclusive eles – estarem falando de mim, e ninguém falar sobre eles”.
 

No campo dos admiradores, estavam escritores como Kurt Vonnegut e Gay Talese. “Ele era um escritor incrível”, disse Talese. “E você não podia imitá-lo. Quando as pessoas tentavam, era um desastre.” (Diogo Guedes)

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