Logo O POVO+
A ironia e a acidez. Como estilo particular
DOM

A ironia e a acidez. Como estilo particular

| ANÁLISE | O legado estético de Tom Wolfe, um dos mestres do jornalismo americano
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL

[FOTO1]
A reportagem Radical Chique se inicia com a inusitada descrição, após uma insônia, do que se passa nos pensamentos do maestro Leonard Bernstein, figura rica e complexada que vai promover um jantar para angariar fundos para os Panteras Negras, grupo radical de combate ao racismo nos Estados Unidos. Em outro texto, que retrata a vida frenética da socialite queridinha de Andy Warhol nos anos 1960, Baby Jane Holzer, o começo traz uma enumeração caótica (mas não sem sentido) de peças de roupa, adereços e toda a afetação possível. Se a ocasião pedisse (ou se ele estivesse simplesmente com vontade), a abertura de uma matéria poderia trazer várias linhas de onomatopeias. Afinal, quando escrevia, Tom Wolfe não estava interessado em criar um jornalismo bem comportado: queria um texto elegante como ele, mas ainda assim marcante, fora do convencional e, antes de tudo, ácido.

[SAIBAMAIS]
O escritor e jornalista faleceu no último dia 14, em Nova York, aos 88 anos. Ícone do Novo Jornalismo – nome um tanto quanto genérico dado à geração formada por Gay Talese, Truman Capote, Hunter S. Thompson, Norman Mailer e Lillian Ross, entre outros, que fez da reportagem um terreno fértil para utilizar as técnicas das narrativas de ficção –, Wolfe teve uma trajetória celebrada também na ficção, com obras como A Fogueira das Vaidades, A Palavra Pintada e Os Eleitos.
 

Mais do que pelas invencionices (algumas brilhantes, outras quase maneirismos), os seus textos são marcado por uma acidez impiedosa e, para alguns, exagerada. O conceito de “radical chique”, por exemplo, que virou hoje uma receita preguiçosa para falar de progressistas que não fazem voto de pobreza, por exemplo, é questionável – a forma do autor descrevê-lo, no entanto, é indiscutivelmente saborosa. Wolfe como poucos, soube transformar a ironia em puro estilo.

O que você achou desse conteúdo?