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Pacatuba. Obras abandonadas e dinheiro desperdiçado
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Pacatuba. Obras abandonadas e dinheiro desperdiçado

| Herança maldita| O quadro é desalentador, com iniciativas de várias gestões que começam e não são concluídas. O cidadão é duplamente prejudicado, pelo gasto e por ficar sem o benefício
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Anunciada ainda em 2012, obra da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza, já teve tantas placas e prazos para conclusão que acabou ganhando ar folclórico entre a população. “Ninguém mais espera muita coisa mais não. Ainda vão terminar?”, questiona, entre um riso e outro, o artesão Everson Oliveira.


A obra, que já cruzou gestões de três prefeitos diferentes, chamaria atenção só pelo arrastado ritmo de execução. Outra peculiaridade marcante, no entanto, também se destaca: A unidade é construída dentro da área de um açude, frequentemente alagada. Ironicamente, o “erro” no projeto foi denunciado pelo próprio atual prefeito, Carlomano Marques (PMDB).


Até 2016 deputado estadual, ele foi eleito em Pacatuba derrotando o candidato do então prefeito, Alexandre Magno (PDT). À época na oposição, Carlomano usou a obra diversas vezes para atacar o adversário. “A UPA foi posta criminosamente dentro de um açude (...) um buraco alagado”, dizia, chegando a ironizar e comparar o ex-prefeito com navegadores portugueses.


Após assumir a gestão, no entanto, as piadas pararam, e o novo prefeito se comprometeu em concluir a obra. Em setembro passado, prometia terminar a ação até fevereiro de 2018. Em janeiro deste ano, assinou nova ordem de serviço e empurrou o prazo para setembro. Desde então, trabalhadores tentam recuperar estragos provocados pela longa inatividade na obra.


Abandonada pela empresa responsável em 2015 com 80% da estrutura concluída e investimento de R$ 1,7 milhão, a UPA sofreu com a degradação das chuvas e diversos saques. Telhas, estruturas metálicas, pias e diversos outros equipamentos foram furtados por criminosos. Até mesmo divisórias de mármore, que dividiam boxes dos banheiros, foram arrancadas e saqueadas. Tudo será reposto pelo cofre publico.

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A obra da UPA é apenas um dos diversos exemplos que atesta o desperdício de dinheiro do contribuinte nas últimas administrações de Pacatuba. Em passagem pela cidade na última sexta-feira, equipe de reportagem do O POVO constatou diversas obras incompletas abandonadas pelo município, a maioria em avançado estado de degradação da estrutura.


O roteiro é bem conhecido pelo brasileiro: Um candidato derrota a oposição nas urnas, toma posse de uma Prefeitura e inicia uma série de obras. Quatro anos depois, um opositor derrota o prefeito, assume o cargo e passa a tocar seus próprios projetos. Ainda com o “carimbo” do governo anterior, as antigas obras acabam abandonadas, virando entulho.


Em Pacatuba, o cenário vem se repetindo pelo menos desde 2008. Antecessor de Carlomano, Alexandre Magno (na época PSB) também era de oposição e foi eleito em 2012 contra o candidato do então prefeito, Zezinho Cavalcante (PRB). Ainda que sejam retomadas, as obras amargariam diversos prejuízos por conta do tempo perdido.


Uma creche de grande porte abandonada, por exemplo, compõe há anos o ambiente do distrito de São Luís, próximo à saída para Itaitinga. “A comunidade já fez diversas reuniões para ver se conseguia algum avanço, mas deu em nada. Aqui no São Luís é danado de mulher tendo menino, e só tem creche lá em Pacatuba, na sede”, diz a aposentada Joana Barros.


Sem qualquer atividade, o “esqueleto” da creche acabou virando espaço para a proliferação de entulhos e focos de insetos. Além disso, o espaço chega a ser usado até como “banheiro a céu aberto” por populares.


“Já fizeram reportagem, os vereadores vieram dizer que agora ia ser feito, mas nada. Eu que não perco mais meu tempo indo para essas reuniões, não serve de nada”, diz Joana, moradora há 30 anos do São Luís.


A poucos metros da creche abandonada, a construção da arena coberta da Escola Manuel Pontes de Medeiros, na comunidade de São Bento, também está abandonada. A cobertura do local chegou a ser iniciada, mas não foi concluída e torna todo o gasto inútil. Com chuvas, o espaço de lazer das crianças fica comprometido.


O enredo se repete em outras obras do município, como uma creche no bairro Alvorada e a cobertura de duas escolas dos Conjuntos Jereissati II e III. A maioria das obras já haviam sido abandonadas pelas empresas antes da atual gestão, mas Carlomano, na época da campanha, prometia reativar e concluir as ações de maneira imediata.


Em eventos pela cidade, ele destacava que concluiria as obras graças a parceria com o hoje presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). A estratégia funcionou, com o peemedebista eleito com 11.999 votos (33,77% dos votos válidos) em campanha fortemente ligada a Eunício, ao senador Tasso Jereissati (PSDB) e a outros líderes da então oposição.


O POVO foi até a Prefeitura de Pacatuba ouvir a gestão sobre as obras. Na sede do Executivo, a equipe foi encaminhada ao gabinete do prefeito, em outro endereço. Chegando lá, foi informada de que Carlomano não despacha do prédio oficial, mas do seu próprio sítio, no bairro Pavuna.


O prefeito, no entanto, não estava na cidade, nem foi localizado por sua equipe. Sem confirmar com precisão, uma secretária afirmou que o prefeito estaria em Fortaleza para tratar de questões de saúde. Diversas chamadas aos números celulares de Carlomano não foram atendidas.
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Construção de UPA é retomada com prejuízos


ATRASOS Anunciada desde 2012, a UPA do Conjunto Jereissati III já ganhou status lendário na comunidade e teve até tapumes roubados em saques. Hoje, ela conta com um vigia de prontidão. Na última sexta-feira, alguns poucos trabalhadores atuavam na obra, deslocando equipamentos de construção. Ao lado, telhado incompleto de uma cobertura prevista para a Escola Manuel Pontes de Medeiros, no São Bento.

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Creche “fantasma” atrai mosquitos e vândalos


ABANDONO Planejada para o distrito de São Luís, uma creche de grande porte está abandonada há anos sem conclusão. Alguns equipamentos da estrutura já foram alvo de saques e vandalismo, restando apenas o “esqueleto” do equipamento no local. Moradores reclamam de invasões constantes e que partes da estrutura facilitam a formação de poças d’água, o que leva à proliferação de insetos na região. 

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