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2 dedos de prosa com
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RINCON SAPIÊNCIA

 

“Sou o criolo de saia que na crise deu uma rasteira”. Assim o rapper paulista Rincon Sapiência se apresenta na música Afro Rep, single lançado em dezembro passado. No último ano, o artista conseguiu projeção nacional com o álbum Galanga Livre, que acumula conquistas como Prêmio Multishow e Prêmio Bravo! de Cultura. Após turnê pela Europa e se apresentar no palco principal do Lollapalooza 2018, Rincon se apresenta pela primeira vez na Capital no próximo domingo, 29, durante a Maloca Dragão.

 

O POVO - Você versa sobre temas espinhosos como racismo, ao mesmo tempo em que apresenta sonoridade dançante, pra cima. A proposta é fugir do tom de lamentação?

Rincon – Acima de tudo, eu sou um artista, então, quando eu entrego uma música, penso que ela precisa ser boa, bem instrumentalizada, precisa causar boas reações e uma das reações que eu acho legal vem dançando também, curtindo. Quero dar o melhor no meu discurso e na estética também.

 

OP - A música Ostentação à pobreza fala sobre como a fome ainda consome o País. Muitos brasileiros ainda estão alienados sobre essa situação?

Rincon – Quando eu compus essa música, há alguns anos, vi um quadro político em que as condições dos menos favorecidos haviam melhorado muito e quis lembrar que, mesmo com esses avanços, ainda existem pessoas que recebem R$ 3 por dia, que ainda existe trabalho escravo no Brasil. Hoje está muito pior que alguns anos atrás, esse recado é ainda mais forte, porque há quem diga que não se deve mais existir território indígena, quilombo, há quem diga que tem que metralhar favela achando que isso é uma “solução”.

 

OP – Por que mandar um salve para William Waack no seu show?

Rincon – Acho que vale a pena lembrar esse caso, lembrar que a gente vive num País onde a maioria é preta e tem muito poucos nos representando. A gente liga a TV e tem poucos pretos. Esse episódio (do Waack) aconteceu quando estava em off e calhou de ter sido registrado e ter sido explanado, mas o lugar que eu chego é que não existe só um William Waack na TV brasileira, no jornalismo brasileiro. Eu vejo que o buraco é ainda mais embaixo. Ele foi demitido, mas mesmo assim ainda acredito que exista uma estrutura racista dentro da televisão, do entretenimento, do jornalismo e não é a demissão dele que vai fazer isso se acabar. Mas foi algo válido. Com a pressão, a emissora teve que demitir.

 

OP – Na música Ponta de Lança, que exalta sua aproximação com o funk, você fala sobre “pedir permissão” para “dar a sarrada”, o que deveria ser óbvio. Por que a música continua machista?

Rincon - Eu ouço muito funk, os artistas do funk são meus vizinhos. É um ritmo que eu gosto, que é brasileiro, que envolve dança. E, assim como os outros gêneros de periferia, o funk reflete um universo onde ainda tem muita falta de informação e uma série de coisas. E como é uma música de linguagem explícita, assim como o rap, ideias de valores que não são tão legais acabam sendo explanadas e isso é algo a ser combatido com certeza. É um processo que está todo mundo vivendo conjuntamente, em que as pessoas têm cobrado ética e postura. As mulheres da parte delas, os gays da parte deles, os pretos... A gente vive um momento em que as pessoas estão trabalhando pra equalizar tudo isso. Eu achei que valia a pena falar no meu verso esse informe de que a gente está se propondo a diversão, a sarrar, mas tudo isso tem que ser algo consentido.

 

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