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Hospital psiquiátrico
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Hospital psiquiátrico

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Tipo Notícia

Digo sim ao investimento em novos hospitais psiquiátricos público ou privado, com transparência de gestão e participação da Agencia Nacional de Saúde na regulação dos planos de saúde. São diferentes dos Manicômios Penitenciários criados para criminosos com alto grau de periculosidade e portadores de transtorno mental. No Ceará o manicômio Stênio Gomes carece de uma auditória criteriosa e constante. A primeira instituição, no entanto, está escudada por uma ideologia anacrônica e tendenciosa ao ponto de gerar confusão entre ambos na bandeira da “luta antimanicomial”.  

Em 1982 traduzi e publiquei a Lei 180 na Revista Brasileira de Psiquiatria, elaborada pelo mestre Franco Basaglia, promulgada na Itália em 1978, cujo objetivo era repensar o sistema de assistência psiquiátrica naquele país em plena crise. Na reforma era imperativa a desativação dos hospitais psiquiátricos públicos. Com os vícios da corrupção, a Itália era campo fértil para uma ideologia redentorista. Basaglia, marxista, havia estagiado na Comunidade Terapêutica inglesa, idealizada pelo sul africano Marwell Jones, com ares “democráticos” como o nosso Mira y Lopez, na época de Sônia e Roberto Lobo, um casal de credibilidade que inspirou a minha geração a acreditar que deveríamos dar um salto qualitativo nos hospitais mentais como em especialidades clínicas, do tipo Sírio Libanês, Incor e São Carlos aqui no Ceará. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra...  

A assistência ao enfermo mental em internamentos , público ou privado, sempre provocou conflitos, causados por falta de verbas, ideologias e populismos. No Brasil, o primeiro hospital mental foi uma homenagem ao Dom Pedro II, presente aos 15 anos de idade do nosso culto imperador, próximo à Praia Vermelha, logo apelidado de Pinel, desdenhando a imagem do maior alienista francês. No Ceará com toda pompa, o Barão de Studart , em 1886, inaugurou o Asilo dos Alienados, alegando que Fortaleza com seus 50 mil habitantes era assistencialmente e moderno como Londres e Paris. Hoje o monstrengo de dar dó, mesmo sendo a instituição mais antiga em funcionamento dos pais, sobrevive graças à força e a resiliência do cearense.  

Os EUA, meca da medicina mundial, reavalia atualmente o seu sistema assistencial hospitalar psiquiátrico. Por sua tradição cristã evangélica e comunitária, inicialmente foi privado e depois passou a ser estatal. Com a crise econômica na Segunda Grande Guerra e dinheiro aplicado na indústria bélica, sob influência de novos colonos europeus, os leitos psiquiátricos foram reduzidos a 1/3, aproximadamente. Com o aumento de problemas sociais graves, o número de leitos psiquiátricos foi integrado no complexo sistema de saúde, como Kaplan demonstra em seu livro Comprehensive Textbook of Pschyatry.n

Enfim, urge repensarmos a assistência prestada aos enfermos mentais com a recriação de uma estrutura de acolhimento adequada, sem a hipocrisia das “clínicas para drogados” e admitirmos que o CAPs foi um natimorto, devido, sobretudo, ao sistema de saúde no Brasil autocraticamente ser “prefeiturarizado”, com seus vícios políticos e não, municipalizado como merece ser. 

 

Cleto Pontes cletopontes@uol.com.br Psiquiatra

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