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Confronto das ideias \ Mobilidade
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Confronto das ideias \ Mobilidade

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Tipo Notícia


A Prefeitura estuda a implantação de bondes em alguns locais de Fortaleza, caso a Linha Leste do metrô não fique pronta nos próximos seis anos. A medida trará benefícios para o trânsito da Capital? 

 

SIM


O bonde moderno tem sido adotado por várias cidades no mundo, incluindo cidades brasileiras. Um dos aspectos relevantes é que linhas de bonde podem ser implantadas por etapas, iniciando com pequenos trechos e seguir em expansão, adaptando-se aos recursos disponíveis. A rapidez de seu sistema construtivo permite obter resultados em curto prazo, com efetiva melhoria da qualidade dos deslocamentos urbanos, já que o bonde tem prioridade de circulação em relação aos demais veículos, proporcionando aumento da confiabilidade no sistema, conforto e rapidez nos deslocamentos.
 

Outro aspecto é que sistemas de bonde têm maior eficiência que ônibus em áreas com sistema viário restrito, como é o caso da região proposta (Centro e entorno), sendo possível circular de forma compartilhada com automóveis, bicicletas e pedestres, sem necessidade de desapropriações. Destaca-se ainda, que sua capacidade é adequada para a demanda estimada e seu custo é entre 5 a 10 vezes menor que outras soluções sobre trilhos. Com bondes pode ser formada de uma rede com várias linhas, com vários destinos, atingindo um grande número de usuários, em um curto período de tempo. 

 

Essas condições permitirão que os usuários tenham opções de escolha de modos de deslocamento, reduzindo congestionamentos, emissões veiculares e aumentando a segurança viária.
 

Por fim, tem sido observado no entorno de linhas de bonde uma valorização imobiliária imediata, um aumento da circulação a pé e a dinamização das atividades econômicas, em função do aumento da acessibilidade urbana, produzindo uma cadeia de efeitos positivos.  

 

Suliano Mesquita
sulianomesquita@gmail.com
Mestre em Engenharia de Transportes
 

NÃO

 

A mobilidade urbana vive nas manchetes. Por um lado, é bom, pois o setor recebe uma grande atenção dos tomadores de decisão e as melhorias são notáveis. Por outro lado, parece que todos ficamos viciados nas novidades e queremos sempre mais. O BRT, o VLT e o Metrô ainda nem estão funcionando direito e já estamos discutindo que o bonde vem aí.
 

A mobilidade ideal é aquela em que as pessoas consigam satisfazer as suas necessidades de acesso às atividades diárias com um conforto razoável e uma boa eficiência econômica e ambiental. É necessário se compreender quais são os problemas de mobilidade na nossa cidade e procurar resolvê-los.
 

No século passado, Fortaleza já teve bonde e tróleibus (ônibus elétrico). O Sistema Integrado de Transportes, com seus terminais, linhas troncais e alimentadoras, foi um divisor de águas e já tem 26 anos. Com as reformas dos terminais e a implantação das faixas exclusivas, incluindo o BRT da Bezerra de Menezes, o sistema ganhou novo fôlego. Está chegando o BRT da Aguanambi. O Metrofor deve passar a carregar uma quantidade bem maior de passageiros, e o VLT está voltando aos trilhos. Deveríamos estar mais preocupados em fazer com que estes sistemas se integrem bem e deixar a discussão dos outros modos mais para o futuro.
 

Querem novidade? Que tal começar por discutir as áreas de circulação de pedestres e de ciclistas junto aos ônibus, bondes, BRTs, VLTs e Metrô? Nossas calçadas são acessíveis? Isto sempre fica para uma “segunda fase”. Como nos outros modos, poderíamos estimar quantos milhões serão gastos, etc, etc.   

 

Mário Azevedo
azevedo@det.ufc.br
Professor do Departamento de Engenharia
de Transportes da UFC
 

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