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Cleto Pontes. Novos tempos, novos amores
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Cleto Pontes. Novos tempos, novos amores

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Cleto Pontes
Médico psiquiatra

Mulheres de 60 anos apaixonadas e vivendo novos amores é um fato social crescente em nossa sociedade A letra da canção que propagava não confie em ninguém com mais de 30 ficou mesmo pra trás. Não falo de casos excepcionais. Patriarcado caminha à extinção e compromisso matrimonial perdura enquanto dura. As relações estão mais racionais e a viuvez e a menopausa não serão mais razão de abstinência sexual. Ontem acompanhamos nas redes sociais o caso de uma ex-mulher que recebeu mensagem do ex-marido na emergência de um hospital, pedindo ajuda. Como se, somente ela, confiável, a todo custo viria a socorrer o seu “ex-dono”, embora findada a relação matrimonial.

 

E assim, caso a caso, as relações mudam a passos largos. Câmara Cascudo no livro História da Alimentação no Brasil assinala que sexo e estômago, em alemão, simbolizam respectivamente fêmea e macho. O segundo seria imperativo, inadiável, pois como Santo Agostinho enfatizava, roubar para comer em situação de extrema fome não seria pecado. O sexo, por sua vez, poderia ser sublimado, postergado, até, fruto de uma escolha ou abstração.

 

Na época de Da Vinci, em Florença, o amor platônico era reverenciado. Uma serenata aos pés da sacada de um casal, fazia o “dono” se sentir lisonjeado com a cortesia à sua mulher. O macho abastardo e comovido sublimava e se saciava sem alimentar a ideia de que o rival queria lhe passar pra trás, pular a cerca, cornear, chifrar... Tantas expressões foram assim criadas em torno da carnal traição.

 

O atual comportamento nos faz cogitar de que não são os códigos biológicos e sociais que gerenciam a sexualidade humana (nem a sensualidade humana) e sim, uma imposição histórico-econômica. No império romano, a homossexualidade dos bravos guerreiros era banalizada em prol das conquistas territoriais. Nos Andes, o ar rarefeito fazia com que as mulheres incas escolhessem o seu macho preferido. Em dois anos ela decidiria se iria preterir o parceiro. A cantora Carmen Miranda, cercada por uma família parasita e pela sociedade hipócrita dos anos 40/50, escolheu morar nos EUA com a intenção de ser mãe solteira, uma saída possível para não levar a pecha de depravada em seu próprio país.

 

Alberto Santos Dumont, filho de pai carinhoso, misógino, somente encontrara sua cara metade em Paris, o xará Albert que, por sua vez, se viu obrigado a casar com uma dama da época, afim de conter as más línguas. Com ela teve um filho que herdara, após o suicídio do pai da aviação, a coleção de Júlio Verne dada pelo pai a Santos Dumont quando ele aprendeu a ler. O admirável papa Francisco diz que os jovens devem namorar o máximo possível. Sem sombra de dúvidas, a célula familiar é determinante na formação de novos casais, mas suponho que a mensagem é clara no sentido de que não se casem em vão.

 

A ciranda e dança das cadeiras continua nesse vasto mundo de inúmeros gêneros. Não há mais sicrana, nem beltrana culpadas por mudar de parceiro, ou mesmo por não querer a mais ninguém e optar pela vida aconchegada em seus próprios e macios lençóis egípcios de 800 fios em cama, de preferência, ampla e confortável de casal. A vida é cheia de encantos, enfim. Vale colocar em harmonia o toque da mão ao fio da meada e fazer de sua própria existência um caprichado bordado.

 

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