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As marcas do massacre e os relatos de testemunhas
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As marcas do massacre e os relatos de testemunhas

Chinelos, sandálias e tênis amontoados em meio a manchas de sangue e marcas de tiros. Este foi apenas um recorte do cenário da maior chacina do Estado
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Amontoados, chinelos, sandálias e tênis simbolizavam ausências e faziam imaginar, ou pelo menos tentar entender, a dinâmica dos minutos de horror que antecederam as mortes de 14 pessoas, na madrugada de sábado, 27. Acuados, de maneira covarde e sem poder de reação, todos foram sumariamente executados. Foi a maior chacina da história do Ceará.

[SAIBAMAIS]

No cenário pós-barbárie, um rastro de destruição se formou por onde passaram aqueles que lutaram para escapar da matança: mesas viradas, cadeiras quebradas, copos e garrafas estilhaçados, marcas de tiros por todo lugar, sangue. Havia ainda muitas telhas no chão, derrubadas por aqueles que tentaram escapar por cima das casas vizinhas. Os furos de bala nas cumeeiras denotavam a ação impiedosa dos homicidas: miravam alto para atingir quem tentava sobreviver.


Tudo se passou na pequena casa de shows Forró do Gago, ironicamente localizada na rua Madre Tereza de Calcutá, 210. Um espaço de aproximadamente de 350 m², que fica nas Cajazeiras, um dos bairros com menor índice de homicídios em Fortaleza. Na via de piso batido, a noite entrou pelo dia e o pavor permaneceu. “Ninguém dormiu. Estamos todos traumatizados. Nunca imaginei algo assim na minha vida. Nunca!”, desabafou uma testemunha.

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Entre os moradores, a certeza de que não havia alvo específico para o ataque. O objetivo era causar medo, pânico e terror.


“Teve um grupo de meninas que se juntou e ficou atrás de uma parede, dentro da festa. Elas acharam que eles não iriam fazer nada, pois elas não tinham envolvimento. Mas um deles viu, foi até lá e atirou em todas”, revelou outra fonte.


Pedindo para não serem identificados, outros moradores disseram ao O POVO que a ação teria sido executada por membros de uma facção que rivaliza com outras duas que teriam o controle de comunidades das Cajazeiras e do Barroso, bairro cujo limite fica a duas ruas do local da tragédia. A conclusão preliminar é a mesma da Polícia Civil.


“Eles foram além da chacina e promoveram um massacre. Chegaram atirando a esmo, pegando todos desprevenidos e matando quem viam pela frente. Não tinham um alvo pré-determinado, fixo”, resumiu o delegado Hélio Marques, do 13º Distrito Policial, na Cidade dos Funcionários, que também investiga o caso. “Mataram por matar. Cometeram uma atrocidade, agiram com muita covardia. Mataram crianças e mulheres que eram apenas frequentadoras, que não pertenciam a nenhuma facção”.


Pela manhã, o comércio na região não abriu. Além do medo de novo ataque, os moradores evitavam sair às ruas — também por conta da forte chuva que caía. Mas, parentes das vítimas e curiosos permaneciam nas calçadas. Viaturas do Comando Tático Motorizado (Cotam) realizavam diligências na região e tentavam obter informações. Poucos, porém, tinham coragem de falar.

 

SEM ALVO CERTO

A impressão é a de que não houve alvo específico na chacina que ocorreu no bairro Cajazeiras, na casa de show Forró do Gago, de sexta-feira para sábado.

 

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