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Expectativa. Um olhar sobre o cinema cearense
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Expectativa. Um olhar sobre o cinema cearense

Cultura: Cineastas reunidos no Porto Iracema discutem os rumos e desafios da produção local. Dos editais à pluralidade de filmes, eles apontam o que esperam para 2018
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[FOTO1] O cineasta cearense Karim Aïnouz diz que o roteiro de um filme é como a planta baixa de um projeto arquitetônico. Para ele, arquiteto de formação, tudo começa pelo texto. “Depois de um argumento, de cinco linhas, o próximo passo é o roteiro, que pode variar em sua quantidade de páginas. Esse roteiro, além de guia, nos conta uma história. Ele ainda deve ter relevância e construção visual, logo que o público pode se identificar de várias formas”, explica.  

De olho nisso, o Laboratório de Audiovisual do Porto Iracema encerra mais um ano de oficina de construção de roteiros de longas-metragens. O curso contou com o apoio de um time de tutores formado pelos diretores Marcelo Gomes e Sérgio Machado, além de Karim. Eles pegaram as sinopses dos roteiristas selecionados para o laboratório em 2017 e as transformaram em  roteiros que podem virar filmes.

Marcelo Gomes, diretor de Joaquim, enfatiza algo inédito. “Em 2017, tivemos o dobro de inscritos. Foram 120 para seis vagas. É quase um vestibular de medicina”. Já Karim aponta que não basta ter vários inscritos quando não se pode filmar. “Temos um mar de roteiros que precisam ser filmados. 

 

Escrevemos muito, filmamos pouco. Depois que resolvemos essa barreira criativa da escrita, passamos para a outra, que é a luta para filmar o que foi escrito”, conta.  

Para eles, o caminho para viabilizar um projeto de cinema está, acima de qualquer outro, nos editais, uma vez que as produtoras não oferecem opções para o Ceará. “Tentaremos com bastante empolgação esses editais. Mas o nosso atual governo está minando as oportunidades de criar arte”, diz Daniel Edmundson, que escreve com Tuca Siqueira o suspense policial La Ursa.  

O jornalista e cineasta Pedro Rocha, que escreve o terror Tempo para matar cachorro com Leandro Alves, conta que as oficinas, apesar de importantes, não são o único norte que cineastas devem seguir. “Qualquer pessoa pode escrever um roteiro bem estruturado, com bons personagens e boa história. O desafio, por outro lado, é continuar com o projeto”, diz. Depois que o roteiro estiver pronto, Pedro aponta que é preciso adequá-lo para algum edital. 

 

“Como é dinheiro de editais e de outras empresas, é preciso torná-lo apropriado com o que eles querem”, diz. A diretora pernambucana Tuca Siqueira, com oito curtas e dois longas no currículo, concorda. “Existem vários tratamentos, já que o edital pode exigir temáticas diferentes”, comenta ela lembrando que seu primeiro filme passou por 13 tratamentos em editais diferentes.  

Ela ainda enfatiza que o mercado, com várias opções de editais, pode tornar o Estado mais aquecido. “Com diversas alternativas de filmes e gêneros distintos, as pessoas ficam atentas ao que é produzido aqui. Além disso, quando os cineastas procuram criar cinema, o edital é só detalhe. Os diretores trabalham com o que têm”, avalia. A perspectiva, para a cineasta, é de que as opções de mercado fiquem cada vez maiores, já que os números de público mostram interesse com o Ceará - caso da comédia Os Parças, com mais de 800 mil expectadores.  

O diretor Daniel Edmundson aponta que, ainda que esteja aberto para trabalhar com coproduções de produtoras independentes, existem outras formas de finalizar um projeto. “Produzir filmes é uma viagem longa. Eu tenho a minha preferência, mas muitos criam os seus filmes e se dedicam em seus lançamentos sozinhos”. Ele cita as obras de Halder Gomes que, com o público alvo certo, garantem milhares de espectadores.  

“Para 2018, muitos vão disputar a oportunidade de lançar o seu nome. Falta investimento para caber todos os projetos, ainda que, sem dúvidas, muitos se sintam inspirados com o que é feito aqui”, adianta Edmundson. De projeção para o ano que vem, o cineasta comenta que se diz ansioso para conferir o crescimento de oportunidades para outros artistas, consequência do reconhecimento de outros artistas cearenses. “Com o que temos, é possível apostar no nosso cinema. Mas dá para melhorar”. 

 

PROJETOS Conheça os roteiros desenvolvidos no laboratório do Porto:  

NA LEI OU NA MARRA O roteirista, montador e diretor Rafael Amorim desenvolve um faroeste futurista, em que uma comunidade de agricultores do Sertão Pernambucano tem seu território ameaçado por uma grande empresa de energia eólica.  

LA URSA Os roteiristas e diretores Daniel Edmundson e Tuca Siqueira apresentam uma metrópole do Nordeste do Brasil, onde um zelador encontra o corpo de um jovem desacordado no pátio. Ele caiu após levar um choque ao pular o muro. A trama desenvolve um suspense policial.  

AMORES PARAGUAYOS Os cineastas Pedro Cândido e Taís Monteiro criam um filme de estrada, em que a personagem Dalva comemora sua última noite na prisão. Ela planeja encontrar Consuelo, ex-companheira de cárcere e grande amor da sua vida. Juntas desejam realizar um sonho romântico  

ONDE NÃO TEM CASA Fernanda Brasileiro e Emilly Benevenuto criam a história de Luísa e Alê, irmãos de criação cuidados pela avó Otília num ambiente de tolerância e absoluta liberdade. No entanto, após a morte repentina da avó, eles são obrigados a morar com a tia Eliete e o seu marido Antônio, um policial que passa a impor regras abusivas à convivência familiar.  

TODAS AS VIDAS DE TELMA A professora de história Adriana Botelho e cineasta Reneude Andrade contam em seu falso documentário uma história de crise profissional. A trama fala de Ana, que precisa retornar ao Crato, interior do Ceará, para resolver um inventário familiar com a morte da tia-avó, Telma Saraiva. Ao chegar à região, se defronta com as imagens da sua infância que emergem a partir da descoberta do acervo fotográfico de Telma.  

TEMPO DE MATAR CACHORRO Os cineastas e jornalistas Leandro Alves e Pedro Rocha, produtor e diretor de Corpo Delito, desenvolvem um horror canibal de ficção, que se resume a uma parábola original e urgente sobre a barbárie que desemboca no capitalismo contemporâneo. 

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