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Cocaína. Tráfico pelo portos. 7,6 toneladas apreendidas em 3 anos
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Cocaína. Tráfico pelo portos. 7,6 toneladas apreendidas em 3 anos

Passo a passo da investigação da PF descobriu grandes remessas da droga a cada mês, relação com máfias internacionais, propina e uma logística muito bem montada
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Quando os agentes russos alertaram sobre uma grande apreensão de cocaína no porto de Kaliningrado, quase fronteira da Rússia com a Polônia, parecia caso pontual. Eram consideráveis 170 kg da droga, remetidos a partir do porto de Santos (SP), conforme as investigações. A apreensão foi no dia 3 de agosto de 2015. Apenas oito dias depois, 11 de agosto, e nova carga de cocaína foi descoberta no porto de Santos. Quase três vezes maior: 471 kg. Pouco antes de serem enviados para a Europa.
 

Em 17 de setembro, ainda de 2015, nova apreensão em Kaliningrado, pouco mais de um mês depois da anterior encontrada na Rússia. Mais 490 kg. Logo em seguida, mais duas cargas encontradas no Porto de Santos, de 630 e 350 kg, já no primeiro semestre de 2016, que também seguiriam para a Europa. Não eram casos desconexos. A Polícia Federal já estava ciente dos episódios, junto com o DEA, a agência norte-americana de combate ao tráfico de drogas.
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Ali foi-se desenhando a investigação sobre a rota marítima do tráfico de cocaína Brasil-Europa, com o porto de Santos como principal ponto de saída operado pelos traficantes. Dois inquéritos foram abertos em 2016, na Polícia Federal, que desencadearam as operações Brabo e Contentor. Confirmaram-se as ligações com outros portos no Brasil. 


Mais apreensões vieram em sequência dentro do porto de Santos naquele ano: maio, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro. Na lista, apareceu o porto de Gioia Tauro, região da Calábria, na Itália. Além de traficantes russos, haveria possíveis vínculos com a ‘Ndrangheta, a máfia italiana com fortes contatos em solo brasileiro. Num intervalo de dez dias, apenas duas cargas barradas bateram mais de duas toneladas e meia de cocaína. No total, de 2015 a 2017, as apreensões listadas somaram 7,6 toneladas.
 

Carregamentos fartos, cocaína em grande quantidade. Descobriu-se que eram procedentes da Bolívia, principalmente, mas também do Peru e Colômbia. Na logística, o Paraguai era usado como rota terrestre, caminho que a droga cruzava dos três países-fonte até os portos. As cargas viajavam nos caminhões em cargas camufladas. Também em pequenos aviões.
 

Nos portos, a cocaína era despachada como tabletes dentro de bolsas ou disfarçada em carregamentos de açúcar. Tudo com a conivência de portuários, gente da aduana, fiscais e servidores terceirizados, aliciados com propina. A PF decidiu que não adiantaria só reter contêineres seguidamente, sem derrubar o esquema. 

Paciência e estratégia para descobrir mais coisas e mais gente.
 

No organograma da investigação descobriu-se que além da droga “própria” a ser vendida na Europa, o negócio oferecia serviço de remessa. Além da “encomenda” própria, os responsáveis despachavam a carga de outros grupos. Crime compartimentado, consorciado, organizado e rentável. Na Europa, o quilo da cocaína chegava por R$ 25 mil a R$ 30 mil – metade desse valor ficaria no Brasil. Só a revenda da droga apreendida no porto de Gioia Tauro chegaria a valer 80 milhões de euros. A carga apreendida lá iria para o porto de Odessa, na Ucrânia.
 

A essa altura, o contato dos agentes brasileiros com a Polícia internacional confirmava outras entradas na Europa. Em 2017, novos portos europeus despontam na investigação, com apreensões relevantes: Antuérpia/Bélgica, Valência/Espanha, Tilbury/Inglaterra. E novos pontos de saída no Brasil: Itajaí e Itapoá (SC) e Salvador (BA). Este ano, com o trabalho policial, foram apreendidos em portos 1.743 quilos de cocaína, entre fevereiro e julho.
 

Uma dessas apreensões, inclusive, feita em março, não foi de droga propriamente, mas de dinheiro - 20 mil dólares, derivados do esquema, segundo a investigação. E o porto usado era o de Presidente Epitácio (SP), no rio Paraná, divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul. Menos distância em relação à Bolívia. Em 4 de setembro deu-se a Operação Brabo – 89 dos 127 mandados de prisão cumpridos. Na operação Contentor, deflagrada em 10 de outubro, 25 pessoas presas e um foragido – o jordaniano Waleed Issa Khmayis. (Cláudio Ribeiro)

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