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Valton de Miranda Leitão. Ódio, intolerância e descrença
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Valton de Miranda Leitão. Ódio, intolerância e descrença

Edição Impressa
Tipo Notícia Por


Valton de Miranda Leitão
valtonmiranda@gmail.com
Psicanalista

O mundo vive o avanço de uma onda conservadora, cujo Seismo (o deus marinho dos terremotos e maremotos) é o ódio alimentado por toda sorte de preconceitos que a brutal ignorância se encarrega de acolher, criando álibis para a destrutividade.

 

A história registra as mais diversas manifestações da crueldade humana, tanto nas inúmeras guerras, cuja carnificina mostra toda a dimensão da periculosidade do homem, enquanto, por outro lado, tenta conter seus impulsos bestiais, punindo o crime com castigos mais horripilantes. Atirar um condenado ao mar dentro de saco cheio de serpentes, triturá-lo numa roda de esquartejamento, desmembrá-lo com cavalos disparados para várias direções tendo pés e mãos amarrados, enforcamentos, cadeira elétrica, morte química e outras “bondades” da natureza humana. Durante o século XIX, a luta contra a pena de morte não era simplesmente pela ineficácia da medida, mas pelo ódio que a prática cultivava.

 

O sistema educacional mundial usou durante séculos o açoite com chicote e palmatória para estruturar o caráter dos futuros cidadãos, alimentando com igual intensidade a violência que estourava nas guerras. Foi somente no início do século XX que a maioria dos Estados civilizados conseguiu abolir a pena de morte e o açoite sob os protestos de partidos nazifascistas e religiosos apegados à Lei do Taleão, do Velho Testamento. A Bíblia está cheia de passagens, nas quais a correção do mau comportamento admite o castigo corporal, embora enfatizando o amor como suprema virtude.

 

O mundo está dividido politicamente entre os que acreditam na força comunitária do bem público e os que afirmam a primazia do privado capaz de engendrar transformações benéficas para o conjunto da população. Essa última ideia foi tematizada por Adam Smith, no século XVIII, com a noção de uma mão invisível que distribuiria os lucros dos muito ricos com o povo e, naturalmente por ineficaz, o conceito se tornou letra morta. Os socialistas, ao contrário, sempre apostaram no igualitarismo e no Estado distributivista que floresceu após a Segunda Guerra Mundial e agora entra em colapso. Essa queda está acontecendo atualmente no mundo e no Brasil com o vertiginoso avanço do “mercado livre”, que privilegia uma minoria em detrimento da grande maioria de seres humanos, cujos direitos duramente conquistados estão sendo usurpados e retirados debaixo da capa do formalismo jurídico.

 

O ecocídio que atinge a natureza planetária equipara-se ao genocídio desse holocausto que a matrix-mídia esconde com sua capacidade invencível para a mentira. O relativismo ético incorporado ao discurso político usa Deus como avalista do Estado de Exceção. A descrença em todas as instituições corrompidas desmobiliza a população, enquanto o fascismo ataca o centro produtor do saber, a Universidade.

 

O absurdo da atual situação brasileira é que nasceu gigantesca insegurança jurídica com a desmoralização do Poder Judiciário, alimentando a descrença na mudança em benefício do povo.

 

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