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Editorial. A Praça do Ferreira e os moradores de rua
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Editorial. A Praça do Ferreira e os moradores de rua

"Se a ocupação não pode continuar, a simples expulsão dos moradores também é inaceitável"
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As crises econômicas costumam atingir com mais violência os setores empobrecidos da sociedade, e não foi diferente com os problemas enfrentados pelo Brasil no último período. Uma das graves consequências foi o aumento da população morando nas ruas; ou pela perda de emprego ou por falhas na rede de proteção social.

 

Esse fenômeno, em Fortaleza, fica mais evidente no Centro da Cidade, mais especificamente na Praça do Ferreira, que se tornou um dormitório a céu aberto, com todas as nefastas consequências daí decorrentes. Famílias inteiras estão alojadas ali, incluindo as crianças, expostas a todos os tipos de risco - e sem nenhum atendimento propício a tirá-las dessa situação miserável.

 

Por óbvio, o drama maior é das pessoas, expostas à intempérie, sem um teto debaixo do qual possam viver com dignidade, mas é preciso reconhecer que o problema também passa a perturbar os frequentadores do local. E muitos desses, sem entender o contexto do problema, passam a culpar as vítimas - os moradores de rua - pela circunstância na qual se encontram.

 

Se é razoável afirmar que esse estado de coisas não pode perdurar, também seria inaceitável resolver o problema simplesmente com a expulsão dessas pessoas da praça, sem propiciar-lhes alternativa capaz de resgatar-lhes a dignidade.

 

O arrazoado vem a propósito de uma suposta tentativa da Prefeitura em remover os moradores de rua da Praça do Ferreira, o que foi negado pelo prefeito Roberto Cláudio, classificando a ocorrência como “mal-entendido”. O deslocamento da polícia e da Guarda Municipal ao local, no dia 12/11, teria sido parte de uma investigação para prender traficantes.

 

O prefeito lembrou que está sendo construído um abrigo no Centro, capaz de atender 250 pessoas, cuja obra estará pronta em março do próximo ano. Comprometeu-se também a entregar, no próximo mês, um novo Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas.

 

Destaquem-se ainda as palavras do prefeito reconhecendo ser incorreto apenas retirar as pessoas da praça, pois elas “continuarão com os mesmos problemas, indo para outro lugar”. Porém, para quem está em situação de rua, os problemas teriam de ser solucionados com mais urgência, mesmo porque se arrastam há muito tempo.

 

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