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Ceará. Vende-se um Aquário
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Ceará. Vende-se um Aquário

Aproximação com estrangeiros pode destravar a obra. Quem administrar o equipamento vai ter retorno do investimento em seis anos após início das atividades
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Alvo de polêmicas desde sua concepção, em 2008, o Acquario Ceará que o Governo quer conceder à iniciativa privada vai operar no vermelho nos dois primeiros anos após iniciar suas atividades. O déficit será de R$ 5,3 milhões no primeiro ano e de R$ 350 mil no segundo. Apenas no terceiro é que começará a dar superávit, com receita anual estimada em R$ 2,1 milhões. Mas o retorno do investimento virá com seis anos de maturação, quando o oceanário atingirá público de 1,2 milhão anualmente.


A previsão de receitas e despesas para o oceanário, além da lista de eventuais parceiros para viabilizar o negócio é de estudo datado de 2015, nunca antes publicado, produzido pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Considerando o período de consolidação de seis anos, o levantamento mostra que o equipamento renderia R$ 66,7 milhões por ano, ao passo que as despesas atingiriam R$ 57,8 milhões. O pagamento com pessoal deve consumir R$ 1,14 milhão por mês e R$ 13,7 milhões ao ano.

[SAIBAMAIS]

“Construímos o plano com base em parâmetros de dois anos atrás. Ele foi feito no início do período recessivo da economia cearense. Tivemos como base valores pesquisados no mercado e experiências de outros aquários”, explica Flávio Ataliba, diretor-geral do Ipece. Há possibilidade de atualização do documento, desde que ocorra a transferência da gestão do ativo para a iniciativa privada. Por enquanto, o Acquario, considerado o “peixinho feio” dos ativos disponíveis à iniciativa privada, ainda representa consumo do dinheiro do contribuinte. Até janeiro deste ano, R$ 138 milhões saíram dos cofres públicos do Estado, principalmente, para manter a estrutura longe de ferrugens ocasionadas pela maresia da Praia de Iracema, onde o equipamento está localizado.


Preço do bilhete

O preço do bilhete é estimado em R$ 60 (sem considerar meia-entrada). Haveria cobranças adicionais de “atrações especiais”, entre elas opções de mergulho, utilização de submarinos e cinemas 3D e 4D. A receita adicional seria de R$ 9,6 milhões. O valor global de bilheterias giraria em R$ 62,8 milhões ao ano. Arialdo Pinho, titular da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur), defende uma tarifa variável entre US$ 20 e US$ 30, R$ 65,8 e R$ 98,7 respectivamente.

 

“O preço do Beach Park assusta? Não é isso que desmotiva o turista. Se a atração for boa, ele pode visitar mais de uma vez. Mas você não pode ter um destino turístico se não negociar”, diz. Para visitantes de Fortaleza, ele espera que o empreendimento siga o modelo de parques Disney, onde quem é proprietário de residência em Orlando tem direito a um valor do tíquete diferenciado. O horário de visitação sugerido pelo documento é de 10 às 18 horas de segunda à sexta. Sábados, domingos e feriados vai de 9 às 19h. A média de pessoas por dia no Acquario é estimada em 3,33 mil.


Estabilização

Arialdo afirma que Fortaleza atingiu um nível de maturação de turistas. A cidade precisa de novas atrações para manter o fluxo de visitantes nacionais e estrangeiros. “Chegou a um patamar de maturação e começa a declinar. Não se consegue manter um destino por muito tempo se não incentivar novas atrações. Apesar de já consolidado, o retorno do turista se dá com novas opções”, afirma.

 

Para assumir a retomada das obras e a gestão do equipamento, o Governo do Estado espera lançar edital até março do ano que vem com a nova modelagem. Ainda assim, aparecem algumas reuniões com investidores. Um deles é o grupo espanhol Inveravante. “É um dos interessados. O que fazemos é repassar informações do empreendimento”, diz Arialdo. Chineses também correm por fora na disputa pelo equipamento turístico.


Para o economista Alcântara Macêdo, o empreendimento agora é irreversível, pois o dinheiro público gasto no Acquario não pode ser “enterrado”. “Tem de haver sacrifício de operacionalizar via PPP (parceria público-privada) ou concessão. O Governo só precisa ter cuidado na hora de contratar uma empresa, que precisa ter expertise no setor”, observa.

 

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