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Dois dedos de prosa com Renata Jereissati
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Dois dedos de prosa com Renata Jereissati

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O envolvimento de Renata Jereissati com o artesanato cearense começou há 20 anos quando foi primeira-dama do Estado, no segundo dos três governos do marido Tasso Jereissati. Ao O POVO, ela conta sobre a essência do trabalho que realizou e a motivação para trazer artesãos ao projeto Loja do Bem, que desenvolve desde 2015 no Iguatemi. Na última quinta-feira, o espaço na área de expansão do shopping foi reinaugurado com peças de 15 associações de artesãos cearenses. Uma enorme variedade de objetos vendidos a preço de custo para incentivar o escoamento da produção. 


O POVO – Como surgiu o projeto da Loja do Bem?


Renata Jereissati - É um projeto do Shopping Iguatemi. Desde 2015 a gente separou uma loja para ajudar instituições carentes. No primeiro ano foi para a Irmã Conceição, que cuida de crianças doentes, no segundo ano, para a Instituição Peter Pan e a irmã Inês, que cuida de moradores de rua. Este ano, por acaso, assisti a uma reportagem na televisão que me deixou muito triste. Dizia que o artesanato cearense estava em crise, rendeiras na Prainha e artesãs diziam que não tinham apoio, estavam sozinhas, que não viam futuro. Aquilo me cortou o coração. Aqui no Iguatemi, pelo menos duas vezes por ano, a gente faz eventos nas praças, chamamos artesãos que trabalharam comigo no passado. Há 20 anos eu me dediquei muito ao artesanato cearense, é uma área que envolve muita gente, muita mão de obra, muitas mulheres, 70 a 80% das artesãs são mulheres. É uma atividade que permite que essas pessoas possam viver em seus distritos, ter qualidade de vida, produzir e vender, uma coisa natural nossa. Não temos que inventar, as pessoas têm essa arte como delas. Este espaço está separado para os artesãos usarem. Este mês tem 15 associações com produtos como tecelagem, renda, palha, barro, couro. Em novembro serão outras tipologias e outros grupos. Vamos ver se a gente vende bem, porque é onde o problema do artesão surge, não têm como escoar a produção, porque moram longe, às vezes entra o atravessador que aumenta o preço, então aqui é direto do artesã.


[SAIBAMAIS]OP - Em que o artesanato cearense se diferencia do que é produzido no restante do País?


Renata – Em primeiro lugar pela diversidade. No Estado inteiro você tem trabalhos de tipologias distintas. Você vai para o Cariri e tem o barro, couro, a palha de milho; nas praias você tem o labirinto, as rendas são muito fortes; no Aquiraz, Acaraú, tem a tecelagem em Sobral; as redes e crochês e região central. É rico, é diverso. Segundo, são nossas riquezas, faz parte da nossa cultura, nossa história particular, e, se a gente não abrir os olhos pra isso, fica tudo muito igual com essa globalização. E é chato, tudo muito igual, né? (risos).

Temos que dar valor, dizer pro artesão que é lindo o que ele faz, ajudar na atualização, na modernização, sem ferir.

OP – Quais seriam as estratégias efetivas para os artesãos se atualizarem, escoar a produção. Como sofisticar essa cadeia produtiva do artesanato?


Renata – No passado eu tinha condições de trabalhar com isso de forma mais direta, quando o Tasso foi governador. Naquele momento a minha preocupação era inovar, treinar para um acabamento qualificado.

Fizemos um trabalho legal de chamar alguns instrutores, designers que muitas vezes eram voluntário. Foram ensinar a fazer coleções que as pessoas tinham vontade de consumir. E o Sebrae os capacitou para se organizarem enquanto associações e terem um preço de mercado competitivo, comprar matéria-prima em conjunto. O governo entrava com a distribuição, criou o Ceart, a loja do aeroporto, a loja do Dragão do Mar. O artesão é artista, mas não sabe como chegar ao consumidor.

Creio que é necessário retomar essas áreas de atuação, agora não tenho nenhum envolvimento com o Governo, estou fazendo como cidadã que acredita.

OP - O que a senhora consome do artesanato cearense?


Renata - Quase tudo. Paninhos de bandeja, centro de mesa, almofadinhas, esse conjunto de barro do Seu Muniz para feijoada, as coisas do Seu Expedito, os banquinhos. O Tasso comprou um jibão do Seu Expedito e colocamos na parede, está lindo. Tenho muita coisa da arte popular do Cariri, esculturas de madeiras. Sempre gostei. Gosto de conhecer a cultura dos lugares e, através do artesanato, você está conhecendo um povo. O México, por exemplo, tem um artesanato lindo.

Ou em prata ou em bordados como nas roupas da Frida Kahlo. Tanto o que tem aqui como o que tem fora, sempre gostei. Acho muito legal o que faz parte das origens dos povos. Na minha casa, uso tanto o que compro aqui como o que compro fora.

OP
- Há uma delicadeza especial em presentar com o artesanato e incentivar a cadeia produtiva?


Renata - Com certeza. Pode até não ser algo tão caro, mas só o fato de você ter olhado uma peça, ter se sensibilizado e lembrado daquela pessoa é importante. Artesanato é aquela coisa com a qual você se emocionou. É arte. Você não olha para o quadro, ouve uma música e se emociona? O artesanato também toca o coração da gente.  

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