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Depoimento. "Tive de queimar minhas roupas para apagar memórias antigas"
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Depoimento. "Tive de queimar minhas roupas para apagar memórias antigas"

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Geralmente ligados a correntes religiosas, tratamentos de reversão sexual podem ser danosos e, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, levar a depressão e tendências suicidas. Para André Luz, 33, foram quatro anos de tentativa, desde que começou a perceber o interesse por pessoas do mesmo sexo, ainda aos 18. Ele ficou noivo de uma moça, adquiriu sensações de pânico e chegou a tentar suicídio.


“Eu nasci em berço evangélico e sempre aprendi a questão da homossexualidade como possessão demoníaca. Então, quando senti desejo por outro homem, comecei a procurar ajuda. Eles dizem que você vai porque quer, mas a hostilidade, a sensação de diferença obriga”, relata. De acordo com André, no tempo do “tratamento”, os psicólogos trabalhavam partindo também do discurso religioso.


No início, André teve o sigilo quebrado. A pessoa que o atendia chegou a procurar a família e líderes religiosos da igreja que o jovem frequentava. Ele prefere não revelar a igreja por já ter tido problemas, mas garante que é uma ordem conhecida. “Foi muito difícil, eu fui muito rejeitado, precisei me afastar de um grupo de crianças onde eu fazia um trabalho social por ‘não ser adequado’. Tive de queimar minhas roupas para apagar memórias antigas”, relata.


André chegou a frequentar retiros com líderes religiosos e psicólogos.

No local, ele afirma que passava por jejuns longos para “purificar a alma”, ficava em quartos escuros e chegou a ser vítima de agressões físicas. “Eles me apresentaram uma moça porque disseram que eu tinha que casar para concluir (o “tratamento”)”.


Hoje, André Luz é pastor da Igreja Apostólica Filhos da Luz, no bairro Benfica, que atua há quatro anos com perspectiva espiritual inclusiva.

De acordo com o pastor, ele já recebeu diversos jovens homossexuais que relataram ter vivido casos semelhantes.


Casado com um homem, André perdeu o medo e atua na autoestima e desestigmatização do preconceito em ambientes espirituais. “Não existe cura para o que não é doença. Deus nos ama como somos. Eu quero dizer é que nós somos a cura para o preconceito”, reforça.

 

Saiba mais 

 

A decisão liminar do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, do Distrito Federal, foi amplamente criticada em publicações em redes sociais e atos em todo o País. Sexta-feira, foi realizado protesto em São Paulo.

Após a repercussão, o juiz afirmou, na quinta-feira, 21, que nunca considerou a homossexualidade uma doença, como repercutiu entre as milhares de críticas à decisão. Ele divulgou nota.

“Em nenhum momento este magistrado considerou ser a homossexualidade uma doença ou qualquer tipo de transtorno psíquico passível de tratamento”, afirmou no texto. Ele disse acreditar que houve interpretação e propagação equivocadas acerca da decisão.

Também na quinta-feira, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) interpôs, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, agravo de instrumento contra a liminar concedida parcialmente pelo juiz.

Em nota de repúdio, a Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE), por meio da Comissão da Diversidade Sexual e Gênero e da Comissão de Direitos Humanos, escreveu que “são atitudes como essa que contribuem diretamente para o aumento dos índices de violência contra a população LGBT, pois são atitudes que os colocam como inferiores, os fazem vítimas de sua própria existência”. 

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