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Cleto B. Pontes. Minha casa, minha vida
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Cleto B. Pontes. Minha casa, minha vida

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Cleto B. Pontes
cletopontes@uol.com.br
Psiquiatra

Nascemos para a liberdade. É condição atávica do ser humano, prisioneiro do determinismo genético e cultural. Um pássaro no ovo já está programado para voar, enquanto os mamíferos dependem de maior tempo pós-parto para se garantirem no mundo. Humanos hoje mais do que nunca necessitam de apoio afetivo e ensinamentos intelectuais, sob o risco de se tornarem eternos prisioneiros de suas limitações. Três fenômenos acompanham o nosso processo civilizatório: religião, dinheiro e império.

 

Na época nômade de viver de caça e colher frutos da terra sem domicílio fixo, a população do globo girava em torno de 1% da atual de 7 bilhões de habitantes. Pagamos altos tributos às religiões e aos impérios no apogeu de suas ideologias e, mais ainda, em seus declínios, com base no paradigma germina, floresce, engrandece ao ponto de fenecer. O politeísmo, por exemplo, começou a declinar 1.700 anos a.C., abrindo espaço para o judaísmo monoteísta e o cristianismo. Em tempos atuais, a reinvenção hegemônica do islamismo, como diria J. Lacan, busca um retorno aos fundamentos. Do “obscurantismo e medievalismo”, a filosofia impôs o iluminismo, legitimando uma fusão de impérios com religiões “laicas”: cientificismo, marxismo, capitalismo, freudismo, etc. “Igrejas temáticas” foram geradas como neobarrocas, neogóticas, pós-modernas, stalinismo, chavismo, petismo etc.

 

Cidades, metrópoles e megalópoles reacendem o instinto de prisioneiro e, conseguintemente, o anseio do homem por liberdade, levando a novos conceitos de incluídos e excluídos do mundo material, carentes de respaldo ideológico. No império romano, alguns escravos se achavam incluídos e outros não. Aqueles revoltados ameaçadores da estabilidade do status quo, eram capturados pelo “poder público” para serem engolidos por leões em arenas meio a uma plateia ávida de insatisfação. A ética era muscular.

 

A palavra representa um grão de areia, pensavam os sábios chineses, diante da montanha quase intransponível das muitas ações humanas. Os ocidentais que acreditam em marketing salvador lançaram ideias como o “Fome zero” e o “Minha casa, minha vida”, programas sociais recentes no Brasil. Aventureiros, mal intencionados, porém habilidosos, dirigentes brasileiros conseguem liderar multidões ao descalabro. O cupim não trabalha só e, sim, com o seu exército. Os “autoexcluídos” ricos e poderosos hoje encarcerados motivam-nos a pensar em um novo modelo de celas, financiadas por jogos de azar e construídas nas terras cobiçadas pelo MST. Os criminosos da elite seriam obrigados a colocar a mão na massa em prol de um novo programa de cadeia para todos. Assim, suas fortunas indevidamente acumuladas voltariam ao sistema produtivo. A utopia não deve ser banalizada, apesar do paradoxal sentimento de descrença reinante. Nova Zelândia é um exemplo de redução de corrupção. Questão moral difícil de resolver, é preciso cultivar o típico sul-americano tamanduá-bandeira em extinção, a fim de debelar de uma vez por todas o cupinzeiro instalado na nossa amada terra brasilis.

 

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