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Editorial. Esgarçamento social
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Editorial. Esgarçamento social

"O que mais falta para piorar esse pântano de indignidades e violência no qual se vive?"
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Que a situação da insegurança pública no Brasil atingiu níveis alarmantes, isso é de conhecimento de qualquer pessoa que se disponha a abrir um jornal, a ouvir uma rádio, a assistir a um canal de televisão, a navegar por qualquer página na internet. Por consequência, mesmo em conversas corriqueiras o tema violência estará presente, e não deixará de vir à tona o desabafo sobre o medo de assaltos ou do temor de sair à rua. Isso quando a pessoa já não sofreu na própria pele a violência, que se tornou banal.

 

Mas quando se observam algumas situações, é que se torna urgente questionar a que ponto chegou o esgarçamento social que explique alguns tipos de comportamento, mesmo vindo de pessoas que vivem à margem da lei ou em confronto com os mínimos costumes civilizatórios.

 

Uma dessas ocorrências aconteceu em Fortaleza. O Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) recebe ligação para atender a uma pessoa que teria sofrido um AVC. Imediatamente é deslocada para o local uma UTI móvel com médico e enfermeira. No entanto, tratava-se de um trote engendrado para a prática de assalto: os dois profissionais foram rendidos e têm seus celulares e equipamento da ambulância roubados.

 

Em uma cidade do interior de Santa Catarina, uma professora, durante a aula, chama a atenção de um aluno de 15 anos de idade. A resposta é um soco que o rapaz lhe dá no rosto, que a deixa sangrando e com o olho roxo.

 

No estado de São Paulo, em uma pequena cidade do interior, dois homens em uma moto passam por um cadeirante paraplégico. Um deles desce da garupa e rouba-lhe o dinheiro, cartões de crédito e o remédio, que acabara de comprar. “Que tristeza”, lamentou a vítima.

 

Esses casos - no momento terrível em que se vive - talvez nem sejam os mais graves, pois ninguém perdeu a vida. Porém são simbólicos de um momento em que parece que nada mais é digno de respeito e nada mais merece reverência: nem professores (que têm a bela missão de ensinar) nem médicos (que salvam vidas) e também não deficientes (que deveriam merecer proteção e solidariedade).

 

Talvez só reste mesmo lamentar: que tristeza. O que mais falta para piorar esse pântano de indignidades?

 

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