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Coração de Pai
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Coração de Pai

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FERNANDO, ANDDY MELLODY, NALLA E HYAN


Anddy Mellody, 16, abraça o pai, fecha os olhos, sorri e respira fundo como quem agradece, como um sonho bom real. Nalla Alexandre, 19, deixa que o choro lhe molhe a face e encontra no pai outro par de olhos a nadar, feito espelho. Fernando Alexandre Silva, 47, cabeleireiro, é um misto equilibrado de orgulho e gratidão ao falar dos últimos sete anos e meio, desde que a paternidade, já amadurecida, tratou de fincar raízes profundas no peito de pai.


Quando do desenlace de Vanessa, mãe das meninas, e de Alexandre, como acontece em muitas famílias, Nalla, então com 7 anos, e Anddy, com 3, ficaram no lar materno. Ao cabeleireiro, eram reservados os fins de semana e uma brincadeira, nos dias úteis, quando a saudade ou o desassossego apertavam mais.
 

“Eu dormia mal, acordava no meio da noite preocupado com elas, tive de ir bater de madrugada lá pra ver como elas estavam. É por isso que não entendo o que acontece com os homens quando se separam e se apartam também do filho. É seu filho, alguém que você colocou no mundo e que, enquanto você estava com A mãe dele, você amava, cuidava, zelava. De repente, sai da porta pra fora e deixa de amar?”, questiona, relembrando que, ao perceber que ter as crias debaixo do mesmo teto seria, pois, melhor para elas e para ele.
 

Solteiro há quase seis anos, na época, o cabeleireiro viu a rotina ser transformada pela ebulição que é ter de ser amparo para duas vidas. Se houvesse uma escala de desafio, escola, lição, alimentação e horários regrados não se comparavam com a nova fase que se iniciava no adolescer. “Ser pai é aprender muito mais do que ensinar. É uma formação como se você fosse especialista em todos os assuntos. Tracei a estratégia de ter com elas sempre uma conversa muito aberta, muito franca”, resume.
 

E, assim, o trio foi colecionando as novidades no germinar com riso e choro frouxos, com parceria, cumplicidade e amor desmedido. Quando veio a menarca, a artimanha do pai foi usar o humor. “Na primeira vez que eu menstruei, foi num Dia das Mães. Eu tava na casa da minha mãe e liguei pra ele pra dizer o que tinha acontecido, quando cheguei no salão, ele tinha contado pra todo mundo, todo besta: ‘Meu bebê virou mocinha’. Passei uma vergonha”, narra Nalla às gargalhadas. A história já virou leveza. No dia em que o episódio se repetiu com Anddy, Alexandre encheu um carrinho de supermercado de absorvente. “Deu para mais de um ano”, sorri.
Se o assunto era sexo, Nalla relembra que o pai não foi de meias palavras. “Ele disse: ‘É assim que acontece, não é mágico e, se você não se prevenir, vai engravidar’”. Mas, quando a primogênita deu o primeiro beijo e correu para dividir com o pai, o coração não aguentou, a pressão subiu. Ele quase infartou. “É que tem coisas que a gente sempre acha que vão ser mais tarde. Por mais que entenda, você não quer que cresça. Na adolescência tudo é muito grande. Quando se machucam em algum relacionamento, correm e se aninham no meu colo. Elas choram e eu choro junto. Sofro com elas”, conta.
 

Como o coração já era terreno fértil, outros filhos foram se juntando e Alexandre, além das meninas, é pai de Fernando Castro, 8, fruto de um relacionamento rápido. Novamente casado há um mês, Alexandre agora se vê às voltas com um novo rebento. Filho da esposa Laís Eufrásio, 22, Hyan Pedro, 2, foi a ponte para o início do relacionamento, há cinco meses.
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“Um dia, na igreja, eu vi o Hyan descendo os degraus com aquelas perninhas curtas, e o olhar de pai protetor viu que ele iria cair. Corri e impedi. Quando segurei ele, procurei a mãe. E foi assim que conheci a Laís. Na primeira semana do nosso namoro, ele me chamou de pai. Meu coração acolheu esse chamado. A partir dali eu já sabia que era meu filho, e quero que algum dia ele me entenda como pai”, esperança.
 

Assim os ramos vão se tornando árvore frondosa de sombra benfazeja e a vida vai se moldando aos novos amores, sempre tendo como guia a palavra pai. “A gente viveu só nós três por mais de sete anos. Não se constrói tudo em um mês, mas o mais importante a gente já tem: ele está feliz e isso que importa. Porque a figura dele é que eu entendo por família. Ele cumpriu papéis que não só o de pai. Ele é tudo que eu mais amo na vida. É por quem eu morreria e é a minha razão de viver”, derrete-se Nalla.

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Francisco e Domitila


REPÓRTER DO NÚCLEO DE COTIDIANO

 

Domitila Andrade é filha de Francisco de Fátima, um poeta que tinha os olhos cor de sonho. A despeito das letras só terem feito sentido quando a vida já contava 11 anos, Francisco construiu uma casa com paredes de livros e enchia os espaços vazios de música e de cheiro de comida boa e farta. Quatro meninas puderam nesta vida chamá-lo de painho e ele plantou em cada uma um mundo de argumentos, labuta, amor e poesia. 

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