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Tributo. Belchior é homenageado por Gero Camilo no show Alucinação
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Tributo. Belchior é homenageado por Gero Camilo no show Alucinação

No dia em que se completam três meses da morte do cantor e compositor Belchior, o multiartista cearense Gero Camilo sobe ao palco do Cineteatro São Luiz para cantar o disco clássico Alucinação
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Gero Camilo atende o telefone e faz silêncio por uns segundos. Está surpreso. “Fiquei arrepiado, na verdade”, responde antes de qualquer pergunta. O ator não sabia que tinham se passado três meses desde a morte do cantor e compositor Belchior, num 30 de abril, na pequena cidade de Santa Cruz do Sul (RS). A razão para a admiração era outra, porém.


Neste domingo, Gero, 46 anos, sobe ao palco do Cineteatro São Luiz para cantar o disco Alucinação, talvez o mais importante na carreira de Belchior. Durante pouco mais de uma hora de apresentação, fará uma releitura de Como nossos pais, Apenas um rapaz latino-americano e Velha roupa colorida, as canções que abrem o disco clássico de 1976. “A ideia era cantar mais o lado B, mas acabei fechando essa proposta. Eu me senti desafiado”, explica o também dramaturgo e poeta.


Não bastassem a importância da data, a imponência do palco e o desafio que o disco impunha, Gero admite: há o peso extra de se apresentar em casa. Afinal, foi ali, nas cadeiras do Cineteatro São Luiz, que o multiartista juntou poesia e cinema no mesmo balaio e resolveu que andaria de braço dado com literatura, cinema e teatro pela vida inteira, numa trajetória cheia de atravessamentos.

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“Vi Sociedade dos poetas mortos umas dez vezes nesse cinema. Foi o filme que mudou minha vida. Levava o caderno e ficava escrevendo as frases no escuro. Tinha várias delas decoradas”, relembra. Foi assim que descobriu Walt Whitman, poeta e ensaísta norte-americano.


Gero menino, entrando e saindo do cinema, também calhou de, um dia, deixar o Conjunto Esperança e atravessar Fortaleza em direção ao mar. Foi um maravilhamento. Nessa época, “Belchior era renomado, suas músicas tocavam na rádio, tinha essa coisa da militância estudantil e os encontros da igreja, que me colocaram na mão essas referências”. E tinha a praia.


“Quando vi o primeiro pôr do sol na Ponte Metálica, fiquei encantado.” Foi como se apaixonar, ele conta, por Belchior e pela cidade, e, na cidade, encontrar modos de resistir, de ir juntando pedaços e construir a vida.


Esse encanto de saber-se vário empurrou-o para todo lado. Daí o feito de, no mesmo fim de semana, habitar os dois maiores palcos da capital cearense: antes do show deste domingo no São Luiz, Gero apresenta o espetáculo Aldeotas (“uma referência às aldeias periféricas, aquelas que não estão nos centros”), de sua autoria, ao lado do ator Victor Mendes, no Theatro José de Alencar, o mesmo onde se enamorou do teatro, aos 19 anos. É um duplo retorno, portanto: à cidade onde nasceu e a desses dois templos.


Triplo se se considerar o reencontro com as canções de Belchior que marcaram sua juventude. “Eu sou muito apaixonado pela obra dele. Desde que comecei a compor e cantar, essa galera do Pessoal do Ceará é referência. Pra mim, o querer cantar é uma identidade direta com o lugar.”


Antes de encerrar, porém, comete uma inconfidência: o disco preferido de Belchior nem é Alucinação. “É Era uma vez um homem e seu tempo”. Do álbum, o quinto gravado pelo cantor, em 1979, Gero escolhe Pequeno perfil de um cidadão comum como a sua música favorita. “É um retrato da gente.” E não cuidou em explicar se a gente era o homem, a arte ou o Ceará inteiro, esse que se vê na obra de Belchior e no pôr do sol da Praia de Iracema.

 

SERVIÇO

 

Gero Camilo canta Belchior

Quando: domingo, 30, às 18 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro)

Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

Telefone: 3252 4138

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