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Os encantos de uma brincante
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Os encantos de uma brincante

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Ainda de colo, Circe Macena entendeu: aquela mulher que lhe dava carinho e banho era também porto seguro para muitas pessoas e artes. “Já era uma mulher cheia de filhos. É como se todas as pessoas do grupo e todos os projetos dela fossem filhos. Eu era a caçula”, lembra a atriz e bailarina de 24 anos. A mãe dela é Lourdes Macena, 59, fundadora do Grupo Mira Ira – Folclore do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e uma das pioneiras quando o assunto é ensino superior de artes cênicas em Fortaleza. Desde os três anos, a menina de cabelos cacheados convive em meio a rodas de bumba-meu-boi, reisados, quadrilhas e muito mais do que nossa cultura tem a oferecer.


“Fui conhecendo a cultura popular de uma forma muito natural, nada imposta, porque, no começo, esse encanto vinha muito como brincadeira”, conta Circe. Ter uma mãe brincante sempre foi uma alegria aos olhos daquela menina, que, aos poucos, percebeu que a bandeira levantada por Lourdes também tinha importância social. “Depois dos 13, 15 anos, eu fui entendendo o que era trabalhar com isso e estranhando o fato de ser engraçado para os outros alunos do meu colégio eu me interessar por essas tradições. Aí eu percebi que era preciso continuar fazendo aquilo, que cultura popular é resistência”. E foi assim que Circe teve compreensão de que, além de uma brincadeira cheia de cores, o oficio-lazer de sua mãe era também “um grito pela cultura”.
 

Para Lourdes, porém, não foi fácil deixar a filha se inserir tão cedo nesse mundo. “Eu tive gravidez de risco. Já tinha perdido dois bebês e a terceira era muito esperada. Fiquei muito insegura depois que ela nasceu. Só que eu tive que voltar (para as atividades do Mira Ira) e ficou o conflito entre a mãe e a artista. Aí quando ela tinha três anos, eu vi uma forma de sofrer menos que era juntar as duas coisas”, conta. A mãe, entretanto, diz nunca ter optado por definir o futuro profissional da filha. “As pessoas perguntavam ‘E aí, a Circe vai ser o quê? ’ e eu sempre tinha uma resposta na ponta língua: ‘feliz’”.
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Para além do grupo de pesquisa, Lourdes vive as linguagens artísticas no cotidiano. “Amo tocar, cantar e minha felicidade extraordinária foi sempre dançar”. Menos farrista do que queria ser, Lourdes conta que o nascimento da filha, em 1993, foi fundamental para equalizar os dias daquela jovem de 30 e poucos. “Eu passei para o serviço público eu tinha 22 anos, amor (risos). Eu tinha acabado de passar na faculdade. Você queria o que? Eu era jovem, solteira, muito bem obrigado”, se diverte. “Aí a Circe me trouxe de volta para o que eu precisava voltar. A minha filha me chamou de volta a terra”, se alegra.
 

Para a filha, Lourdes segue sendo um poço de redescoberta. Quanto tinha 17, ela se encontrou com a mãe enquanto professora. “Depois que eu entrei no IFCE foi que eu entendi quem era aquela mulher realmente. Parece que no primeiro dia de aula, eu estava a reconhecendo”, conta. E foi assim que Circe descobriu uma docente motivada. “Ela é uma pessoa que quer levar todo mundo para frente, minha mãe é minha grande incentivadora”.
 

Agora, Circe descobre o lado avó de Lourdes. A jovem de 24 anos é mãe de Antônio, de três, já apaixonado por cultura popular. “Depois que a gente se torna mãe, a gente percebe que viver 100% para o filho faz a gente enlouquecer”, aprendeu a filha, que às vezes leva “carão” da mãe para ser mais enérgica com o filho. “Eu sou mais do diálogo e a mãe é mais mandona”, entrega. Surpreendendo, Lourdes aproveita para elogiar a filha: “Me orgulho muito dela. Ela teve filho jovem e consegue administrar a vida dela em tudo e ser mãe. Namorar, ser descolada, mas ter a responsabilidade pelo filho”.
 

Apesar de às vezes durona, Lourdes celebra mesmo é a possibilidade de ser leve – seja como mãe, artista ou professora. “Eu sei que essa coisa de ‘deixa a vida me levar, vida leva eu’ é meio louca, mas você não pode deixar a vida tão quadra 

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Belarmina e Renato
 

Belarmina de Menezes é uma canção romântica do José Augusto. Ela é uma novena de Nossa Senhora dos Prazeres e também uma noite de risada e cerveja no Canto do Camarão. Mão de ferro quando o assunto é gerir seu trabalho, é só abraço e beijo quando se fala de família. Não conjuga o verbo discriminar. Ama seu sofá, vestidinho de ficar em casa, filme nacional, livro de banca de revista (tipo Sabrina) e é viciada em comer ata madura da Serra da Conceição.
 

RENATO ABÊ É REPÓRTER DE CULTURA E ENTRETENIMENTO
renatoabe@opovo.com.br

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