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Dois dedos de prosa com Kobi Liechtenstein
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Dois dedos de prosa com Kobi Liechtenstein

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Kobi Liechtenstein. Os últimos 27 dos 54 anos de vida de Kobi Liechtenstein foram vividos no Brasil. Nascido em Israel, ele trouxe para o País, em 1990, o krav magá, técnica de defesa pessoal que aprendeu com Imi Lichtenfeld, criador da prática. Sem se definir como esporte ou arte marcial, o krav magá é a técnica oficial das Forças de Defesa de Israel. Entre os civis, o número de praticantes é crescente. O desafio de Kobi é preservar o krav magá da forma que lhe foi ensinada em Israel. O grão-mestre 8º dan e presidente da Federação Sul-Americana de krav magá recebeu O POVO em visita a Fortaleza, quando avaliava um exame de graduação de praticantes na Capital.


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O POVO - O que motivou você a sair de Israel aos 27 anos para vir ao Brasil ensinar krav magá?

Kobi Liechtenstein - Eu fui aluno do Imi. Comecei com três anos de idade. Foi minha segunda casa. Imi foi para mim como um pai. Faço krav magá por amor e carinho. Em uma palestra há duas semanas, alguém me perguntou sobre o crescimento do krav magá nos próximos anos do ponto de vista comercial. Falei que não tem. O krav magá não é comércio para mim. Não faço por causa do dinheiro. Faço porque acho que consigo mudar o mundo assim. Estava no Brasil por acaso a passeio em 1987. Vi como as pessoas vivem reféns na mão da violência. E pensei que com o krav magá eu poderia mudar essa realidade. Voltei para Israel e de repente deu o clique. Perguntei ao Imi o que ele achava. Por acaso, ele tinha parentes de antes da guerra em São Paulo. Ele se empolgou. Vim e não tive como voltar.
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O POVO - Você encontrou uma realidade mais difícil do que esperava ao vir para cá?

Kobi - Eu fui muito malvisto. Acho que as pessoas tinham medo da realidade que trazia. Medo da ideia de ensinar a se defender. Arrumar lugar para dar aula foi um inferno. Depois que começou, andou igual fogo em palha. 

 

O POVO - Por que não posso definir krav magá como esporte ou arte marcial?

Kobi - Nosso ponto de partida é outro. Na arte marcial, você tem dois lutadores. Um estuda o outro. Quando um baixa a guarda, o outro dá o bote. No krav magá não acontece. Só vou reagir quando você apresentar um risco real para mim. É uma questão filosófica que difere das artes marciais. Sobre esporte, não encaixa. Não temos competições, regras que limitam o que pode ou não pode. Não existe limites.

O POVO - Você está há 27 anos no Brasil e sabe que vivemos em uma sociedade violenta. Você falou que, com o krav magá, o sujeito se sente imbatível. Ele sempre vai ser estimulado ao comportamento reativo ou às vezes é melhor recuar diante de uma situação de violência?

Kobi - O krav magá foi criado para dar a possibilidade. Quem anda hoje normal na rua não tem possibilidade. É vítima. O crime vai decidir se vai levar só sua bolsa ou também sua vida. O krav magá vem para inverter essa situação. Agora, o seu comportamento naquele momento depende de muitos fatores. Você faz a avaliação daquele momento e como você vai se comportar. Não falo para os meus alunos para qualquer situação ir lá e sair na porrada. Nosso objetivo é que o nosso aluno volte para casa inteiro. Reagir ou não reagir, cada um tem um nível de tolerância. A reação é aprendida na aula.

O POVO - O número de praticantes é crescente no Brasil. Quando há essa popularização, aumenta a possibilidade de perder as raízes. Quais as dificuldades em manter o krav magá mais ‘puro’?

Kobi - Com meus instrutores é fácil. Eles devem participar de pelo menos três seminários de reciclagem por ano. No mínimo. A gente avalia como eles dão aula. Eu vou à cidade de cada um dos instrutores para ver se eles estão passando o ensino de Imi. Para os meus alunos se tornarem instrutores, tem que ter quatro ou cinco anos de aula. A gente não combate a pirataria. Investimos na qualidade de nossos instrutores.

 

Por João Marcelo Sena

Repórter de Cotidiano


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http://bit.ly/2rncZlj

 

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