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Aprender e ensinar liberdade
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Aprender e ensinar liberdade

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Lliberdade o que Alice Ramos, 33, quer para João Pedro, 13. O desejo que almeja para si é também o caminho que desbrava para o menino. O relacionamento de mais de década, como qualquer outro, traz os deleites e as angústias de conviver e de educar. Juntos, eles se edificam e aprendem que são os interesses tão particulares de cada um que os tornam melhores um para o outro. 


“Acho que se ela pudesse iria à praia toda semana. Ela curte muito surf”, conta João Pedro que gosta bem menos de mar que a mãe. 

 

“Ela me teve aos vinte anos e hoje em dia sai muito. Como não teve muito tempo para sair, agora ela quer curtir”, explica enquanto tenta entender.
 

No início, as emoções vieram pendulares para Alice. A euforia de uma barriga crescendo, outro coração batendo no corpo, a descoberta de que seria o menino desejado deslizava numa ida e vinda com a angústia de ser mãe jovem, de mal ter começado a faculdade de Psicologia, de ter de dizer para os pais que o neto, projetado para os dez anos seguintes, chegaria em menos de nove meses. “Um misto de muitos sentimentos porque eu não fui acolhida no sentido amoroso, eu fui acolhida no sentido material, mas senti um distanciamento afetivo”, conta Alice.
 

Treze anos depois, o pêndulo ainda oscila, por outras delícias, por outras culpas. Só o que é estável é o orgulho pelas conquistas de uma mãe que escolheu ser sincera com o filho e de um menino que aprendeu sobre parcerias. Desde a separação do pai de Pedro, com quem se relacionava desde os 15 anos e permaneceu até os 22, a auditora fiscal descobriu os novos gostos. “Eu tinha uma faculdade para terminar, estava descobrindo como era bom ir para festas. Eu nunca tinha ido. Como era bom paquerar, como era bom ter outras pessoas e sempre tive uma relação de muito diálogo com o João”, explica.
 

Formou-se, namorou, bebeu, passou em concurso, garantiu  autonomia financeira para si e o filho e, mais recentemente, um apartamento que já é a cara dos dois. “Ela é muito criativa. Ela que decorou essa mesa, fez esse sofá, colocou essa planta ali”, exalta o filho. “Aconteceram muitas transformações na minha vida e ele estava ali participando de todas”, diz Alice.
 

Na vida de João também. Além de ser um dos melhores alunos da sala de aula, ele é campeão em olimpíadas de matemática e tem os estudos como a principal realização. “Acho que ele sente falta que eu exalte mais o brilhantismo dele, porque ele é mesmo brilhante. A nossa relação é muito particular e eu não sou de ficar sempre exaltando as qualidades dele. Mas, olha, ele foi competir em uma olimpíada e fez a primeira viagem dele sozinho por mérito dele”, admira. “Eu fico feliz porque o que eu desejo pra ele é liberdade”,
Outro orgulho, conta, é ter um menino tão diferente de si. Enquanto ela gosta de sair para dançar forró, João fica em casa jogando games e ouvindo os raps preferidos. A adolescência trouxe para os dois também os conflitos. “É um novo filho” para a nova mãe que ainda se corrige mentalmente para não chamá-lo de criança enquanto fala dele. Vão se encaixando devagar.
 

“Uma coisa que eu admiro nela é que ela sempre teve muita confiança em mim e isso influencia no nosso processo de ser mais independente. Minha mãe me preparou para eu ser uma pessoa bem independente”, sente.
 

Na maternidade diferenciada da que teve com a mãe, Alice diz que tenta ser mais aberta, menos controladora. “Mas eu me dei conta de uma coisa, quando eu me sinto mãe mesmo, de verdade, é quando meu filho me compara à avó dele”. São assim os ciclos.
 

Questionado sobre como é ser filho da Alice, João responde: “Ser filho dela mostra que as mães que são mais soltas e têm mais tempo para fazer outras atividades podem ser independentes e mais felizes, e isso torna os filhos mais independentes e mais felizes também”, acredita. No caminho que eles percorrem, cada um garante o protagonismo na vida que desenham para si. O elo e a sinceridade dos dois mostra a riqueza da relação de uma mãe que — como diz o rap — desenvolve-se e evolui com o filho, de um filho que se desenvolve e evolui com a mãe. 

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Lourdes e Eduarda Talicy
 

Sou filha de Lourdes Martins. Ela é professora, é apaixonada por Educação. Além de minha mãe e do Brayne, ela é fã da série americana House, gosta de almoços na beira da praia, cinema e cafés. Para ela, em qualquer dia eu estou muito linda e importa muito pouco a roupa apressada que escolhi ou a cara lavada. Desde criança, me deu um dos maiores presentes que qualquer pessoa pode ter: sempre inventou possibilidades para que a gente pudesse ser o que quisesse. E a gente é.
 

EDUARDA TALICY É REPÓRTER DE COTIDIANO
eduardatalicy@opovo.com.br 

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