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Bate papo com o procurador Diogo Castor
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Bate papo com o procurador Diogo Castor

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O POVO - Na última sexta-feira, 17, no dia em que a Lava Jato completou três anos, a Polícia Federal lançou nova operação, agora investigando esquema de frigoríficos e pagamento de propina a agentes públicos do Ministério da Agricultura. Para o senhor, isso é reflexo de uma cultura de combate à corrupção que se firma com a Lava Jato?

Diogo Castor - Nós temos que esperar os desdobramentos dessa nova operação, que não está a cargo da Lava Jato, mas apura fatos gravíssimos, incluindo venda de carne estragada para consumo da população. Acho que vai ser um grande teste para as instituições mostrarem se estão consolidadas ou se a cultura do tapetão jurídico e da impunidade vai continuar prosperando fora da Lava Jato.

OP - No início da semana passada, o Procurador-geral da República enviou uma lista para o Supremo com pedido de abertura de inquéritos e declinações de casos para outras instâncias do Judiciário. O senhor acredita que é possível haver braços da Lava Jato nos estados e que a investigação acabe se ramificando?

Diogo Castor - Certamente. A expectativa é que os fatos sejam distribuídos para vários cantos do Brasil e que haja investigação séria e efetiva para cada um deles, com a apuração de responsabilidades das pessoas envolvidas, assim como na Lava Jato.

OP - A gente tem visto uma reação do Congresso, com a possibilidade de votação de texto que anistia o caixa 2. Como o senhor vê essas movimentações?

Diogo Castor - Isso também é um movimento natural. A gente viu algo parecido na Itália (durante a operação Mãos Limpas, uma referência para a Lava Jato). Sempre quando você combate a elite econômica e a classe dominante, há uma reação do sistema na forma de leis aprovadas casuisticamente para favorecer determinados segmentos ou mesmo com a alocação de servidores públicos de alto escalão em postos estratégicos para tentar dificultar as investigações.

OP - Isso ameaça a Lava Jato?

Diogo Castor - Eu diria que a Lava Jato está bem consolidada. Atualmente, é muito difícil fazer alguma coisa contra a Lava Jato. Contudo, outras investigações, fora da Lava Jato, poderão ser impactadas com essas medidas (em discussão no Congresso). Isso causa preocupação.

OP - Como o senhor enxerga essas críticas feitas ao Supremo Tribunal Federal por causa da lentidão dos processos da Lava Jato na Corte?

Diogo Castor - O Supremo acumula muitas competências e tem dificuldade de dar conta de todas elas. Talvez seja o caso de repensar o foro privilegiado.

Diogo Castor

Procurador da República

 

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