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A importância de uma boa relação com a comida na infância
Cotidiano

A importância de uma boa relação com a comida na infância

| alimentação | Além da nutrição do corpo, comer é cultura, afeto e rotina. Uma relação saudável com a alimentação começa na infância
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Comer é mais do que apenas se alimentar. Saúde, afetos, lembranças, desafios, autoestima, cultura, condição financeira. Todos esse elementos também estão postos à mesa na hora da refeição. Participam dessa mistura na rotina influenciando na relação dos indivíduos com a alimentação e sendo influenciados por ela. A infância é o lugar onde esse vínculo começa a ser desenvolvido. É preciso cuidado para, além de bons hábitos alimentares, ensinar às crianças tudo de bom que pode vir junto com a hora mais gostosa do dia. A hora de comer!

Tem receita com o poder de trazer a vó para juntinho da gente ao ser saboreada. Alguns ingredientes tem a cara da mãe ou do pai. Outros cheiros fazem lembrar os primos no almoço de domingo. Sentimentos passados de geração em geração. Cultivar um padrão alimentar equilibrado é a base para uma boa saúde — física, mental, afetiva, familiar e socioemocional. Raquel Barsi, psicóloga e psicoterapeuta especialista em transtornos alimentares e obesidade, fala sobre como isso começa a ser traçado na infância.

"Se a família nunca tem fruta e verdura em casa, como vai cobrar de uma criança que ela coma isso? Isso vai desde a primeira infância. Ao longo da vida, ela vai ter contato com outras crianças e ela não vai poder ser blindada. Começam as festinhas na escola, os aniversários, doces. O fato das refeições serem em família é importantíssimo. Se esses momentos são agradáveis, as pessoas conversam e interagem entre si", diz.

Parte das crianças enfrenta fases com dificuldades para comer. Normalmente, isso vem aliado ao momento em que elas percebem o poder de escolha. "Querem brincar e não comer. É importante não desistir de tentar, se parar de oferecer, aí é que não tem chance mesmo da criança provar alimentos saudáveis", explica Raquel. Cozinhar junto da criança, provar a comida juntos, tentar fazer receitas de um jeito mais lúdico são dicas que podem ajudar nesse processo, segundo a especialista. "Tentar fazer da forma mais leve possível. Existe uma pressão muito grande no desejo de acertar", relaciona, sobre as cobranças acerca do corpo.

A rotina corrida é um dos fatores que influenciam no aumento do consumo de alimentos industrializados na maioria das famílias, afirma Andressa Freire Salviano, professora de nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e especialista em pediatria. "Para ter uma alimentação saudável em meio a uma rotina corrida é preciso organização e planejamento. Não tem uma fórmula mágica. Tem que colocar a alimentação como algo importante. Torná-la um momento para fortalecer vínculos", frisa.

Ela defende que uma boa alimentação não deve ser ligada diretamente à ingestão de alimentos específicos. "Nenhum alimento sozinho faz isso. É preciso dar prioridade a alimentos in natura ou minimamente processados. As pessoas reclamam muito que frutas e verduras são muito caras. Mas dá para aproveitar a sazonalidade dos alimentos, tem épocas que são mais baratas. Além de, ao longo do ano, ter uma alimentação variada", ensina.

Para criar uma relação saudável com a comida, é preciso lembrar que a alimentação é algo essencial da vida e, por isso mesmo, natural, parte da rotina. "Tentar não ser um momento estressante, de tortura quando a criança não quer comer ou uma festa quando a criança comer algo saudável. É preciso sentar junto, comer junto e cozinhar junto, na medida em que vão crescendo, tomando os cuidados de acordo com cada idade. Muitas crianças nem reconhecem o que é uma cenoura, uma batata", completa.

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Saiba mais sobre o projeto Daily Bread de Gregg Seggal no site (https://www.greggsegal.com) e no instagram (@greggsegal) do fotógrafo.

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