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Desnutrição clínica atinge quase metade de pacientes internados
Cotidiano

Desnutrição clínica atinge quase metade de pacientes internados

De acordo com especialistas, uso de suplementos orais como terapia nutricional é uma das saídas para problema
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Cerca de metade dos pacientes internados no País está com desnutrição clínica. O quadro resulta de importante revisão de estudos entre pesquisadores na área de nutrição, divulgada durante o XXII Congresso Brasileiro de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen 2017). Para eles, investir na nutrição é garantir melhores condições de recuperação e reduzir custos hospitalares.


“A desnutrição aumenta o tempo de internação, aumenta a taxa de complicações infecciosas, piora a evolução do paciente cirúrgico, dificulta a oferta completa de radioterapia e quimioterapia no paciente com câncer, diminui a cicatrização. O paciente internado custa mais caro e ele morre mais”, afirma o gastroenterologista Dan L. Waitzberg. Ao lado de outros pesquisadores brasileiros da área de terapia nutricional, o especialista publicou recentemente a revisão dos estudos na revista espanhola Nutrición Hospitalaria.


Neste cenário, uma das principais soluções apontadas pelos especialistas é que o Sistema Único de Saúde adote o uso de suplementos orais como terapia nutricional em pacientes internados. “São soluções líquidas e com um volume de mais ou menos 350 ml que contém proteínas, aminoácidos, lipídios, carboidratos, vitaminas, minerais e ele deve ser dado quando o paciente não pode, não consegue por várias razões, ingerir alimentos na taxa considerada adequada para idade ou doença dele”, explica Dan. Ele diz que é a massa magra que orienta a resposta imunológica.


Entre outros pontos defendidos pelo médico está a fácil digestão e outras pesquisas que comprovam a eficácia dos produtos na nutrição e na melhora da resposta de pacientes ao tratamento principalmente pacientes idosos e em tratamento do câncer.


Questionado sobre os custos da disponibilidade de compostos alimentares para a rede pública, o pesquisador defende que ainda assim há custo-benefício. Ele considera que as terapias reduziram o tempo de internação e uso de antibióticos, por exemplo. “Claro que se for ver o número de pacientes que precisa e o número de litros que vai ser necessário, aí o volume é grande. Então precisa uma pressão sobre o governo no sentido de mostrar que é grande mas é custo-eficiência”.


A terapia nutricional oral funcionou com dona Aldenora Arcanjo, 91. Após apresentar perda de peso e uma série de infecções, ela iniciou o uso de suplementos orais e viu rápidos resultados na melhora. “Ela tem muita dificuldade de comer, então nós usamos no suco, na vitamina, nas frutas que ela gosta e ela reagiu muito bem, reduziu as infecções e ganhou peso rapidamente”, explica Marta Arcanjo, filha de Aldenora. Orientada pela nutricionista,ela conta que prefere investir na alimentação em vez de remédios. “É qualidade de vida que eu quero pra ela”, afirma.


Ilana Bessa é a nutricionista clínica que acompanha Aldenora. Ela é especialista na alimentação de idosos e concorda com os benefícios do uso de suplementos para a recuperação clínica de pacientes. “O processo da internação, das mais simples até grandes cirurgias, mexe muito no que diz respeito à massa muscular é à manutenção da nossa saúde e essa alteração cai muito na desnutrição e na perda de massa magra”, explica.


Para Eduardo Aguilar, médico presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral, iniciar rapidamente a terapia nutricional adequada é tão importante quanto tratar o que levou o paciente ao hospital. “Na maioria das vezes, os custos altíssimos de reinternação podem ser drasticamente diminuídos se orientar a alta com a questão nutricional. Essa é uma coisa que a sociedade está alerta e mostra como isso é relevante. Como é bom para a população e bom para o bolso do SUS”, conclui.


*A repórter viajou a convite da Braspen


Saiba mais


Estudo sobre desnutrição hospitalar no Brasil mostra que o problema atinge de 40% a 60% dos pacientes que dão entrada em hospitais da América Latina.

 

Situações de risco: idade avançada, tratamento com múltiplas drogas, quimioterapia, radioterapia, cirurgias, isolamento social, entre outras.

 

Maior prevalência de desnutrição se dá em: 

 

Pacientes oncológicos - 66.3%

Pessoas com mais de 60 anos - 52,8%

Pessoas com infecções - 61,4%

 

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