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Chacinas impõem medo e silêncio a comunidades
Cotidiano

Chacinas impõem medo e silêncio a comunidades

Crimes ocorridos nos últimos dois anos deixaram, junto com os múltiplos assassinatos, o clima de medo e a imposição do silêncio nas comunidades. Guerra entre facções é apontada como principal causa
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HORIZONTE.


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Guerra entre facções motivou matança em aniversário


Repleta de pichações com referências a facções, a cidade de Horizonte também registrou uma chacina. Em 12 de junho, às 18h30min, cinco pessoas foram mortas, incluindo uma criança, e outras três foram baleadas, em uma residência, no Centro. Segundo testemunhas, durante um aniversário, um Toyota Corolla parou, na rua Baturité, e cinco ocupantes encapuzados desembarcaram efetuando disparos. Os alvos seriam dois homens. Um deles foi morto. As vítimas foram: Gabriel de Sousa Moura, 3, Rafaela Alves Silveira, 19, Bruna Erica Viana de Sousa, 21, Herton Ricardo da Silva Menezes, 20, e Marcilândio Cavalcante de Sousa, 28.


Titular da Delegacia de Horizonte, Rodrigo Jatai contou ao O POVO que cinco suspeitos foram presos e outras três pessoas, que deram apoio à ação, foram identificadas e são procuradas. Todos foram indiciados por homicídio qualificado. Segundo Jatai, o crime foi ordenado de um presídio. Um dos presos, inclusive, de 21 anos, foi morto em uma unidade prisional. “Em Horizonte, acredito que 99% dos homicídios são motivados por essa briga entre facções”, disse o delegado.

 

PACATUBA.

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Testemunha afirma que crime foi cometido por policiais


Permanece sem autoria conhecida a chacina que vitimou quatro pessoas, em 8/7/2016, em Pacatuba. Na ocasião, segundo a Polícia Civil, sete homens encapuzados invadiram casa no bairro Velho Timbó. Investigações preliminares apontaram que o crime estava relacionado à disputa entre facções. Uma testemunha, porém, disse ao O POVO que os tiros teriam sido efetuados por PMs. As vítimas estariam envolvidas com o tráfico de drogas. “Vieram à tarde, arrancaram as duas câmeras da frente e levaram o dinheiro, as drogas e armas que eles tinham. Deixaram todos desarmados e voltaram às 4 horas para matar”, contou.


Foram mortos: Diego Alves de Paula, 21, que respondia por roubo; Nilberto Estevão Sousa, 27, que respondia por tráfico; além de Emanuel Freitas da Silva, 18, e Bruno Hudson Oliveira da Silva, 17, sem antecedentes. Titular da Delegacia Metropolitana de Pacatuba, Sidney Ribeiro disse que a apuração sobre o caso não foi concluída e não foram identificados suspeitos. Informado sobre a denúncia envolvendo PMs, o delegado contou que estava fazendo, à mão, uma observação no documento, para que a possibilidade fosse checada.

 

GRANJA LISBOA, FORTALEZA.

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Quando os executores se somam aos alvos


Apesar de orquestradas, nem todas as chacinas deste ano saíram como planejadas. No primeiro episódio de 2017, no conjunto habitacional Leonel Brizola, no bairro Granja Lisboa, cinco pessoas foram mortas e outra três foram feridas. Entre as vítimas, porém, estavam também aqueles que, segundo testemunhas, teriam planejado a matança — pela internet.


Foi no dia 20 de fevereiro, por volta das 23h30min, quando um grupo de homens armados invadiu um dos apartamentos. Conforme o registro da ocorrência, houve troca de tiros. Como pano de fundo estaria disputa de território para o tráfico de drogas. No local, foram mortos: Jefferson Gomes Oliveira, 23, Valdirene Nascimento Ribeiro, 23, Alan Lima dos Santos, 20, e Francisco Max da Silva Ângelo, 19. Leonardo de Sousa Lopes dos Santos, 17, morreu no hospital.


Três suspeitos foram capturados à época: Flaviana de Assis Forte, 23, Francisco Alysson Lima dos Santos, 22, e José Carlos Pereira da Silva, 50.


A Polícia Civil informou que as investigações continuam. Nas proximidades do residencial, moradores se recusam a falar sobre o caso. A região é repleta de pichações atribuídas a facções “proibindo” roubos.


PORTO DAS DUNAS, AQUIRAZ.

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Ninguém está preso pela maior chacina do ano


Em um só ataque, um grupo armado matou seis pessoas em uma casa de veraneio, em Aquiraz, em 3 de junho. Quatro meses depois, as investigações continuam, segundo a Secretaria da Segurança (SSPDS). Em agosto, uma pessoa foi presa, mas já está em liberdade. Ao todo, 39 testemunhas foram ouvidas. Um dos suspeitos, João Guilherme da Silva Fernandes, 22, foi morto por policiais civis em 8 de junho, também em Aquiraz, durante tentativa de outra chacina.


A principal linha de investigação indica que o crime aconteceu por briga entre facções. Entre os mortos estavam Davi Saraiva Benigno, 23, que respondia por tráfico de drogas e posse irregular de arma, e Fernando dos Anjos Rodrigues Júnior, 35, acusado de estelionato, tentativa de roubo, falsificação e posse de drogas para consumo pessoal. Além deles, Mateus Matos Costa Monteiro, 23, Klinsmann Menezes Cavalcante, 26, Nilo Barbosa de Souza Neto, 33, e Edmilson Magalhães Neto, 25, conhecido como Bola, perderam a vida.


O POVO esteve na casa no último 27 de outubro. Um homem que estava no local se recusou a falar. Ao lado da casa, alguns operários também não comentaram o caso. Cinco meses após o crime, a fachada do local, que era vermelha, foi pintada de amarelo.

 

PARAIPABA.

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População tenta voltar à rotina, mas crimes são recorrentes


Em meio a crimes hediondos, a população de Paraipaba, a 93 km de Fortaleza, convive com o medo. Durante a visita do O POVO ao local, em 24 de outubro, moradores comentaram as tentativas de voltar à rotina após a chacina, em 20 de julho. “Aqui, melhor fica quem menos sabe”, disse um morador. Em 30 de outubro, novas mortes. Três jovens foram assassinados em um ônibus de transporte escolar. Eles pegavam carona para uma festa religiosa.


Nos dois casos, registrados na comunidade do Cacimbão, as apurações apontaram briga entre facções. Na chacina, Clayver Braga de Almeida, 16, Felipe Sousa de Oliveira, 20, Francisco Rangel Pereira Batista, 31, e Rodrigo Araújo dos Santos, 24, perderam a vida. Em entrevista ao O POVO, o delegado Marcelo Vieira, que estava respondendo pela Delegacia de Paraipaba, preferiu não dar informações sobre o caso para não atrapalhar as investigações.


Os jovens que morreram em 30/10 foram: Antônio Alison Carneiro Sousa, 15, Francisco Leonardo Silva dos Santos, 18, e José Leandro Silva dos Santos, 15.

 

BOM JARDIM, FORTALEZA.

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O silêncio de quem presenciou


O episódio mais recente ocorreu em Fortaleza, no último 8 de outubro. Quatro jovens foram surpreendidos e mortos durante reunião para selar suposto “acordo de paz”. O encontro ocorreu em uma residência abandonada, na rua Aguapé Verde, no Bom Jardim. As vítimas tentavam acertar “arestas” após homicídio, ocorrido quatro dias antes, na comunidade do Marrocos.


Segundo informações da Polícia Militar, um grupo de seis pessoas teria invadido o local e efetuado disparos contra os jovens. Foram mortos: Rafael Bezerra Oliveira, 17, Adriano dos Santos Moreira, 20, Francisco Josué Araújo da Silva, 18, e Luiz Carlos de Oliveira, 14. À época, o capitão da PM Messias Mendes informou que dois dos executados estariam envolvidos no assassinato anterior.


A Polícia Civil informou que a Divisão de Homicídios (DHPP) capturou duas pessoas suspeitas de participação nos crimes. Comunicou ainda que o inquérito continua em andamento. Já os moradores da comunidade, alguns deles vizinhos ao local das mortes, evitam falar sobre o assunto. Exatamente em frente ao local do crime, O POVO encontrou a via bloqueada por entulhos de construção civil.


 

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