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Histórias de gente com o sonho de entender das letras
Cotidiano

Histórias de gente com o sonho de entender das letras

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De blusa azulzinha de aluna da rede municipal com cheirinho de roupa recém-lavada, cabelos penteados cuidadosamente e bochechas rosadas de maquiagem, dona Hercília Lima do Nascimento, 76, é a primeira a chegar para a aula. Virou estudante da EJA na Escola Municipal Martinz de Aguiar, no Monte Castelo, depois da vida inteira sem entender das letras, guiada por um desejo claro: “eu quero aprender a ler, pra poder ir pra igreja, abrir a Bíblia e saber o que tá escrito nela. Eu não quero ser mais nada na vida, que eu já tô velha, quero só aprender a ler, ler tudo que eu vir pela frente”, conta.

 

Um dos alunos mais dedicados, seu Manuel Militão, 69, soube muito pouco o que era estudar quando criança. Paraense e filho mais velho de uma prole de 19 irmãos, começou os estudos aos 12 anos, mas logo largou. Tinha de trabalhar para ajudar a família. Especialista em maquinário pesado, nunca lhe foi cobrado estudo formal. Mas, curioso, ele ia aprendendo “um pouquinho de leitura, outro pouquinho de escrita, pelos próprios esforços”.


Aluno da EJA há três anos, Manuel está prestes a terminar o fundamental e ir para o ensino médio. “Hoje, é tudo muito avançado e a gente, mesmo velho, tem de acompanhar. Depois que eu entrei aqui, por exemplo, tá mais fácil de mexer no celular. Tenho quase 70 anos, mas não importa: eu posso ter conhecimento”, acredita.


Os dois fazem parte de um grupo atendido na EJA de pessoas que, acima dos 60 anos, tiveram pouco ou nenhum contato com o ensino formal e agora tentam recuperar o tempo perdido. Eles ainda são minoria. Na EJA, são os jovens o maior público.


Para Wesley Rocha, gerente da Célula de Desenvolvimento Curricular da SME, um dos principais objetivos é, aumentando a aprendizagem na idade certa, diminuir o número de jovens que precisam da EJA para terminar os estudos. “Criança e o adolescente devem se alfabetizar e concluir na idade certa e dar oportunidade a adultos e idosos que não tiveram essa chance”.

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