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Número de transexuais assassinados no CE dobra neste ano
Cotidiano

Número de transexuais assassinados no CE dobra neste ano

O número de transexuais mortos chegou a dez neste ano com a morte de Gaby Sousa, de 21 anos. A Polícia Civil investiga o caso por meio da Divisão de Homicídios. A vítima foi morta na rodovia CE-060, em Maracanaú
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A Polícia Civil investiga o homicídio de Gaby Sousa, de 21 anos, no município de Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A travesti foi assassinada na noite da última segunda-feira, 31 de julho.

Este foi, pelo menos, o 10º assassinato de transexuais no Ceará, em 2017.


Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o corpo de Gaby foi encontrado no acostamento da CE-060, no quilômetro 9. Ela foi morta a tiros. Os criminosos seriam dois homens que estavam em uma motocicleta Honda Fan preta. O POVO apurou que a vítima chegou a correr, mas morreu no local. No documento da vítima, o nome consta como Paulo Henrique Carneiro de Sousa, de 21 anos, sem antecedentes criminais. A Divisão de Homicídios investiga o caso.


Segundo a representante no Ceará da Rede Trans Brasil e amiga da vítima, Sammila Marques, Gaby era moradora do Planalto Benjamin e começou a transição para a identidade feminina há dois anos. Ela chegou a viajar para São Paulo, sempre em busca de melhores condições para a família, e ajudava a mãe. Gaby era bem vista pela comunidade e tentou recentemente arranjar um emprego, mas não conseguiu. Por causa do desemprego, passou a se prostituir na rodovia em que foi encontrada morta.


De acordo com levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), o Ceará já conta, este ano, com 11 assassinatos de transexuais. Uma das vítimas foi um homem trans. No entanto, ao buscar detalhadamente os casos, O POVO apurou que em um deles, que aconteceu no bairro Carlito Pamplona, na Capital, a perícia constatou que a vítima não era uma mulher trans, como se cogitou a princípio. O número é o dobro do registrado pelo grupo no ano passado, quando foram contabilizados cinco assassinatos de transexuais no Estado.


“Depois do caso da Dandara (dos Santos, assassinada no Bom Jardim em fevereiro), a gente esperava que houvesse uma resposta mais contundente e permanente da Justiça e das autoridades policiais para coibir esses assassinatos, mas isso não ocorreu”, denuncia Chico Pedrosa, presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), que atua na defesa dos direitos da população LGBT. Segundo ele, há uma sensação de impunidade, uma vez que os crimes não são elucidados nem tem os autores punidos.


“No caso da Hérika (Izidoro, que morreu em abril dois meses depois de ter sido agredida), nenhum foi detido ou investigado”, relembra. Para o militante, a falta de resolução dos casos acabam motivando outros crimes de ordem transfóbica. “Isso tem um valor simbólico. Os assassinos, ao verem os casos sem penalização, se encorajam para cometer outros crimes”, afirma.


O coordenador de Políticas Públicas para a População LGBT do Governo do Estado, Narciso Júnior, diz que o caso de Gaby tem sido acompanhado, mas admite que os casos sofrem com “certa dificuldade de ser descobertos”. “A gente tem pedido agilidade (da Polícia) para desvendar esses casos, para entender o que gera esses crimes e até que ponto é a transfobia. Nem sempre é transfobia”, demarca.


Para Chico Pedrosa, todos os crimes registrados neste ano “levam a crer” em motivação transfóbica. Isso porque, pontua, a forma como eles ocorrem sugerem crime de ódio. Isso é definido, ele diz, pela quantidade de tiros e golpes empreendidos e pela violência da ação. “Se as investigações seguissem, a gente poderia ter mais informações sobre os casos”, cobra.

 

As vítimas


2/7 - Rayane, 35 anos. Assassinada com 15 tiros em Horizonte


2/ 7 - Larissa. Assassinada com 5 tiros no Vicente Pinzón


25/6 - Salomé Bracho, 25 anos. Assassinada a tiros por dois homens em São Luís do Curu


15/6 - Julhão Petruk, 20 anos. Homem trans assassinado com tiros no rosto no bairro Autran Nunes


15/5 - Ketlin, 31 anos. Encontrada morta a facadas em Juazeiro do Norte


9/5 - Jennifer Holanda. Assassinada a tiros em Itaitinga


27/4 - Pinha Priscila. Assassinada por espancamento no Conjunto José Walter


12/4 - Hérika Izidoro. Morreu dois meses depois de ser espancada e atirada de um viaduto na avenida José Bastos.


15/2 - Dandara dos Santos, 42 anos. Assassinada após espancamento no bairro Bom Jardim


30/1 - Paola Oliveira, 30 anos. Encontrada morta em Russas, com marcas de espancamento

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