Ele aguarda vaga na calçada perto do Desafio Jovem, numa das ruas próximas à avenida Silas Munguba, no Passaré. Na camisa, a inscrição Preto no Branco faz duvidar o colorido que foi (e ainda pode ser) a vida do jovem pedreiro de 27 anos que O POVO opta por identificar apenas pelo primeiro nome: José.
Aos 6 anos, a tinta e o papel o fizeram se descobrir, entre os traçados, desenhista. Aos 12, loló e, ao longo dos anos, maconha, crack e cocaína lhe roubaram o prumo da vida. Nos momentos de lucidez, pincela céu, rua, tempo. Uma flor. É um escape que encontrou para fugir do vício enquanto espera pelo tratamento talvez definitivo.
“O que eu mais gostei foi de desenhar minha mãe. E eu cheguei e dei de presente pra ela. Ela ficou morta de feliz”, confessa, com olhar de tristeza.
José foi encaminhado para um Centro de Apoio Psicossocial (Caps), da Prefeitura, onde deve ter acompanhamento de médicos, psicólogos e assistentes sociais. “Daqui para frente, eu quero me regenerar e recuperar a confiança da minha família”. Mas ainda espera vaga de internação. Quer uma segunda chance — porque, a primeira, já foi desperdiçada. “Eu me internei em um abrigo, mas não aguentei mais de uma semana. Ficava doido querendo usar a droga. Agora, eu estou disposto. De verdade”.
[SAIBAMAIS]Uma Bíblia protestante serve de forro para os traçados. “Eu desenho com o que tiver”, diz, enquanto faz, com caneta preta, uma flor.
Atendimento
A assistente social diz que nas comunidades terapêuticas do Estado, as pessoas em reabilitação não têm condição de conviverem com usuários que não passaram por processo de desintoxicação.
Desafio Jovem