É trabalho cansativo. De tentar explicar aos carroceiros que eles não podem juntar o entulho dos outros e despejar em qualquer calçada. De convencer os vizinhos a esperarem os dias de coleta domiciliar. De vigiar o problema assim que ele surge e ter paciência de cobrar a Prefeitura. São estes passos apontados pelo fotógrafo Eudes Vieira, que mostra um dos novos pontos de lixo de Fortaleza, formado na esquina das ruas Carlos Vasconcelos e Luiz Alves Maia, no bairro Joaquim Távora.
[SAIBAMAIS]Por ali, o problema começou na calçada de uma casa abandonada há dois meses.
A rampa não entra na estatística dos 1.316 pontos de lixo mapeados pela Prefeitura até o fim de 2016. Segundo a Secretaria da Conservação e dos Serviços Públicos (SCSP), este número era de 1,8 mil locais no início de 2015. Os dados fornecidos ao O POVO Online no início deste mês são os mesmos de maio do ano passado, quando O POVO fez o acompanhamento das ações anunciadas pela Prefeitura em 2015.
Naquele ano, 13 ações foram apresentadas para gerir os resíduos sólidos na Capital.
Dois anos depois, o desafio é ampliar resultados e mudar a relação de moradores e empresários com o lixo. Nas ruas, os resíduos ainda concentram riscos de transmissão de doenças. O problema é histórico e foi alimentado na última década pelo aumento da coleta especial urbana, que tenta esvaziar os pontos de lixo. O diagnóstico é de Albert Gradvohl, coordenador especial da Limpeza Urbana em Fortaleza.
Coleta especial
Ele mostra que a coleta especial urbana cresceu numa média de 37% ao ano entre 2007 e 2012. O serviço difere da coleta domiciliar, que recolhe o lixo doméstico em dias programados. A distorção no serviço teria deixado cidadãos e empresas mal acostumados no descarte de entulhos, móveis velhos e sacolas de lixo em qualquer lugar para serem levados pelo Município. No caso de empresas, o endurecimento das multas direciona o grande gerador a contratar serviço de coleta particular e credenciado pela Prefeitura.
Desfazer pontos de lixo depende de ações em diversas frentes. Iniciado em 2015, o projeto Reciclando Atitudes busca a educação ambiental mobilizando escolas, igrejas e comunidades em articulação da Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma). Em 2017, começou a abordagem dos moradores e a revitalização dos espaços.
Foi o que aconteceu na calçada da rua Paulo Firmeza, no São João do Tauape.
Por ali, o pintor Severino Neto, 61, relata o problema de décadas. “Foi só dar uma ajeitada que o lixo não voltou”, comemora. Há três meses, este foi o primeiro ponto de lixo excluído com as ações do projeto, conta Edilene Oliveira, coordenadora de Políticas Ambientais. A iniciativa já mapeou 30 locais, já recuperados ou em revitalização. No entanto, moradores do São João do Tauape apontam que o problema persiste a dois quarteirões dali, na calçada da escola municipal Professora Antonieta Cals.
A eliminação de pontos de lixo não evita que outros sejam “criados”, pontua Gemmelle Santos, professor do Mestrado em Gestão Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Para ele, esta dinâmica se relaciona com a sensação de sujeira generalizada percebida na Capital, sendo amenizada com a diminuição do volume geral de lixo coletado.