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Rua José Avelino fica vazia na primeira madrugada sem feira
Cotidiano

Rua José Avelino fica vazia na primeira madrugada sem feira

Esta foi a primeira madrugada de quinta em que tradicionalmente teria feira, mas não ocorreu. Galpões reabriram
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Não fosse pela presença de policiais militares e fiscais municipais de trânsito, o “miolo” do Centro de Fortaleza teria ficado praticamente vazio na primeira madrugada de quinta-feira sem a tradicional feira da José Avelino, que ocorre há pelo menos oito anos. Ônibus vindos de outros estados e pessoas para lá e para cá com sacolas debaixo do braço — movimentação antes típica do dia e do horário — deram lugar, ontem, 18, ao deserto.

[SAIBAMAIS]

Entre os feirantes que ficaram, porque os pontos de venda permaneceram seguros nos galpões ou porque eram um pouco mais distantes da José Avelino, predominou a solidariedade aos demais. “Tá certo ele (o prefeito Roberto Cláudio) querer tirar por causa do transtorno, mas que arranjasse um lugar e não fizesse como tá fazendo, enxotando como cachorro”, censurou a comerciante Fabíola Batista, 35, que, às 4 horas, observava os escombros da rua.


“Se o povo tivesse pra onde ir, não teria manifestação”, acrescentou o também comerciante Ricardo Pereira, 37, que estava com Fabíola. Os dois consideram que o Centro Fashion, no Jacarecanga — empreendimento privado para onde migraram alguns dos feirantes — não atende aos ambulantes mais pobres devido ao alto custo. “Muita gente que também trabalha aqui na (avenida) Alberto Nepomuceno não tem condição de ir pro Fashion”, disse Fabíola.


Por telefone, a assessoria do prefeito Roberto Cláudio (PDT) reforçou que, das mil vagas cedidas pela Prefeitura aos feirantes da José Avelino no Mercado São Sebastião e no Beco da Poeira, somente 326 foram sorteadas e 674 aguardam novos cadastros. A respeito das reclamações sobre a forma como a Prefeitura lidou com as manifestações, a assessoria se limitou a dizer que o encerramento das atividades da feira foi consensual.


Das 4h30min às 7 horas, consumidores frequentes da feira começaram a surgir. Quando não paravam na rua vazia, passavam direto sobre os blocos de calçamento removidos na quarta-feira à noite e entravam nos galpões. Mesmo os comerciantes dali se mostraram insatisfeitos. “Era por causa da feira que o pessoal vinha”, admitiu José Teixeira da Costa, 80.


Vindas de Irecê, na Bahia, as comerciantes Adriana Rodrigues, 36, e Tábita Martins, 28, souberam na estrada que a feira havia sido encerrada. Mesmo assim, seguiram viagem e apostaram. “A gente tinha uns fornecedores e vinha direto neles. Agora a gente fica sem saber (onde eles estão)”, compartilhou Tábita ao sair de mãos vazias de um galpão. “A feirinha aqui era boa”, declarou Adriana.


A Prefeitura cataloga a existência de 32 galpões de comércio na região da José Avelino. Destes, 19 deram entrada com pedidos de regularização. Os que não se manifestaram devem ser fiscalizados e, eventualmente, fechados.


Da calçada do Mercado Central, alguns comerciantes ainda chegaram a arriscar a venda de produtos. Anunciavam “olha a calcinha a um real, olha!” e se repreendiam: “a gente não pode fazer muito barulho, senão a Guarda vem”.

 

Para entender


14/5. Com liminar que garantia temporariamente os feirantes, madrugada de véspera do Dia das Mães teve pouco movimento. Prefeitura queria que este fosse o último dia de feira

 

15/5. Cerca de 200 feirantes protestaram contra a desocupação da José Avelino

 

16/5. Feirantes e Guarda Municipal entram em confronto. Prefeito Roberto Cláudio se manifesta e classifica manifestações como “criminosas”.


17/5. Liminar que protegia feirantes é suspensa. Obras de requalificação da via começam

 

18/5. Polícia mantém guarda para impedir feira, que já não tinha mais amparo legal. Somente os galpões abrem

 

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