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Mãe de Renata Braga diz que desistiu de lutar por punição de assassino
Cotidiano

Mãe de Renata Braga diz que desistiu de lutar por punição de assassino

Condenado pelo homicídio da bailarina Renata Braga, ocorrido em 1993, o advogado Wladmir Porto cumpriu apenas 488 dias de prisão e teve pena extinta por decisão da 1ª Câmara Criminal do TJCE. Ele deve ser solto hoje
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A crença na justiça foi se perdendo para dona Oneide Braga, 66, ao longo dos 23 anos desde que foi apartada da filha, a bailarina Renata Braga, assassinada pelo advogado Wladmir Lopes de Magalhães Porto, 47. Ontem, ela soube que a breve vitória conquistada pela família, em agosto de 2016, com a prisão de Wladmir, foi revogada. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), sob argumento de prescrição da decisão, concedeu habeas corpus e extinguiu a pena. “Mesmo que coubesse algum recurso, não tentaria mais. Depois de 23 anos, o que prescreveu pra mim foi a minha luta”, sentenciou a mãe.

 

No dia 23 de dezembro de 1993, após uma discussão de trânsito, Wladmir sacou uma arma e atirou na direção do carro em que Renata estava com amigos. O tiro atingiu a cabeça a bailarina de 20 anos que sonhava ser atriz.


Desde então, transcorreram quatro julgamentos: o primeiro com pena de sete anos; o segundo uma absolvição contestada pela acusação; o terceiro com sentença de 12 anos e seis meses; e último com pena de nove anos e dois meses. Ao todo, Wladmir ficou preso por 488 dias: 230 dias em 1994 e, desta vez, do dia 7 de agosto de 2016, até hoje, quando deve ter o alvará de soltura cumprido. O advogado sai da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, em Aquiraz, e deve retornar para Brasília, onde a família reside. Caso será arquivado.

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No última terça-feira, 2, a desembargadora Maria Edna Martins, relatora do processo, apresentou voto concedendo habeas corpus ao advogado, atendendo a um pedido da defesa, e extinguiu a pena. O processo foi votado na 1ª Câmara Criminal e aceito foi por unanimidade. Para determinar a extinção da pena, a desembargadora ressaltou em voto que o espaço de tempo de 18 anos, entre a última sentença válida anteriormente e a de agosto, ultrapassou o prazo de prescrição, que é de 16 anos.


Ao saber do desfecho, Oneide se disse tomada por sentimentos ambíguos: vergonha e vitória. “Fico envergonhada pela nossa Justiça promover a injustiça, mas, depois de uma batalha tão longa, me sinto vitoriosa de tê-lo visto preso”, conta ela, que é fundadora e presidente honorária da Associação de Parentes e Amigos de Vitimas da Violência (Apav).


Defesa

Advogado de defesa desde o princípio, Clayton Marinho acredita que o caso da prescrição é uma “questão matemática”, mas diz entender a “revolta e o desabafo” da família da bailarina. “A família do acusado sempre teve o maior respeito pela família da Renata. Da minha ótica, foi uma tragédia que se abateu nas duas famílias, nenhum dos dois procurou isso. E, como tudo tem começo, meio e fim, o fim chegou”, disse.

 

Para entender

28/12/93. Numa discussão de trânsito, Wladmir sacou um revólver e atirou contra o Jipe em que Renata estava com amigos. Ela é atingida

28/12/93. Wladmir é preso em flagrante. Transcorre prisão de 230 dias até julgamento

30/12/96. Wladmir tem sentença pronunciada

18/2/97. Wladmir é condenado a sete anos. A defesa recorre. Julgamento é anulado

20/6/2008. Em novo julgamento, Wladmir é absolvido. Decisão é contestada pela acusação

1/6/15. Wladmir é condenado a 12 anos e seis meses. Defesa recorre e Wladmir aguarda decisão em liberdade

2/8/16. A 1ª Câmara Criminal decreta a condenação de Wladmir em nove anos e dois meses.

7/8/16. Wladmir é preso em Brasília

2/5/17. Pena é extinta por prescrição entre a sentença da pronúncia (30/12/96) e o terceiro julgamento (1/6/15) 

 

Ponto de vista

Chocante e, ao mesmo tempo,compreensível a declaração de Oneide Braga. Vinte e três anos depois, a dor permanece, mas ela diz que sua “luta prescreveu” e não mais continuará a busca por punição, do tamanho que teria de ser, para Wladmir Porto. O personagem que arruinou a vida dela, a da filha Renata, a dele e de dezenas de pessoas nesse enredo dramático da história dos crimes “banais” de Fortaleza.O “caso bailarina”é parte da memória de uns e corte na carne de outros. Wladmir, uma dessas criaturas que se vale de uma arma de fogo no cós ou no porta-luva do carro para resolver banalidades. O assassinato foi em dezembro de 1993, mas um bando de Wladmir ainda insiste na arrogância de andar armado e até matar. De verdade, sinto um profundo lamento por esse dia, 28/12 /1993, ter existido na vida de Oneide, Renata, Wladmir...

 

Demitri Túlio é repórter do O POVO

 

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