No dia 23 de dezembro de 1993, após uma discussão de trânsito, Wladmir sacou uma arma e atirou na direção do carro em que Renata estava com amigos. O tiro atingiu a cabeça a bailarina de 20 anos que sonhava ser atriz.
Desde então, transcorreram quatro julgamentos: o primeiro com pena de sete anos; o segundo uma absolvição contestada pela acusação; o terceiro com sentença de 12 anos e seis meses; e último com pena de nove anos e dois meses. Ao todo, Wladmir ficou preso por 488 dias: 230 dias em 1994 e, desta vez, do dia 7 de agosto de 2016, até hoje, quando deve ter o alvará de soltura cumprido. O advogado sai da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, em Aquiraz, e deve retornar para Brasília, onde a família reside. Caso será arquivado.
[QUOTE1]No última terça-feira, 2, a desembargadora Maria Edna Martins, relatora do processo, apresentou voto concedendo habeas corpus ao advogado, atendendo a um pedido da defesa, e extinguiu a pena. O processo foi votado na 1ª Câmara Criminal e aceito foi por unanimidade. Para determinar a extinção da pena, a desembargadora ressaltou em voto que o espaço de tempo de 18 anos, entre a última sentença válida anteriormente e a de agosto, ultrapassou o prazo de prescrição, que é de 16 anos.
Ao saber do desfecho, Oneide se disse tomada por sentimentos ambíguos: vergonha e vitória. “Fico envergonhada pela nossa Justiça promover a injustiça, mas, depois de uma batalha tão longa, me sinto vitoriosa de tê-lo visto preso”, conta ela, que é fundadora e presidente honorária da Associação de Parentes e Amigos de Vitimas da Violência (Apav).
Defesa
Advogado de defesa desde o princípio, Clayton Marinho acredita que o caso da prescrição é uma “questão matemática”, mas diz entender a “revolta e o desabafo” da família da bailarina. “A família do acusado sempre teve o maior respeito pela família da Renata. Da minha ótica, foi uma tragédia que se abateu nas duas famílias, nenhum dos dois procurou isso. E, como tudo tem começo, meio e fim, o fim chegou”, disse.
Para entender
28/12/93. Numa discussão de trânsito, Wladmir sacou um revólver e atirou contra o Jipe em que Renata estava com amigos. Ela é atingida
28/12/93. Wladmir é preso em flagrante. Transcorre prisão de 230 dias até julgamento
30/12/96. Wladmir tem sentença pronunciada
18/2/97. Wladmir é condenado a sete anos. A defesa recorre. Julgamento é anulado
20/6/2008. Em novo julgamento, Wladmir é absolvido. Decisão é contestada pela acusação
1/6/15. Wladmir é condenado a 12 anos e seis meses. Defesa recorre e Wladmir aguarda decisão em liberdade
2/8/16. A 1ª Câmara Criminal decreta a condenação de Wladmir em nove anos e dois meses.
7/8/16. Wladmir é preso em Brasília
2/5/17. Pena é extinta por prescrição entre a sentença da pronúncia (30/12/96) e o terceiro julgamento (1/6/15)
Ponto de vista
Chocante e, ao mesmo tempo,compreensível a declaração de Oneide Braga. Vinte e três anos depois, a dor permanece, mas ela diz que sua “luta prescreveu” e não mais continuará a busca por punição, do tamanho que teria de ser, para Wladmir Porto. O personagem que arruinou a vida dela, a da filha Renata, a dele e de dezenas de pessoas nesse enredo dramático da história dos crimes “banais” de Fortaleza.O “caso bailarina”é parte da memória de uns e corte na carne de outros. Wladmir, uma dessas criaturas que se vale de uma arma de fogo no cós ou no porta-luva do carro para resolver banalidades. O assassinato foi em dezembro de 1993, mas um bando de Wladmir ainda insiste na arrogância de andar armado e até matar. De verdade, sinto um profundo lamento por esse dia, 28/12 /1993, ter existido na vida de Oneide, Renata, Wladmir...
Demitri Túlio é repórter do O POVO