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Travesti Hérica Izidoro morre dois meses após agressão
Cotidiano

Travesti Hérica Izidoro morre dois meses após agressão

Hérica Izidoro foi espancada e jogada de um viaduto na José Bastos. Polícia não divulga dados sobre o caso
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Tipo Notícia
“Ele estava melhor, apertando a mão da gente, reagindo. Teve piora de uma hora pra outra”. Ontem, morreu a travesti Hérica Izidoro, espancada e jogada de um viaduto na avenida José Bastos no dia 17 de fevereiro. Sua irmã, Patrícia Castro de Oliveira, falou sobre o impacto da brutalidade sofrida, a esperança de recuperação e a busca por justiça.

 

“Estamos cobrando, porque nada foi feito. Ninguém foi preso e não temos nenhuma notícia sobre o interesse da Polícia em prender. Se fosse alguém de uma família rica, certeza já tinham resolvido”, lamentou Patrícia. Conforme ela, Hérica estava com pneumonia nos dois pulmões, mas a causa da morte só será revelada em laudo, a ser divulgado dentro de sete dias. Hérica seria velada na Igreja Nossa Senhora de Salete, no bairro Bela Vista, e enterrada hoje, às 8 horas, no cemitério Parque da Paz, no Passaré.


Família abalada, mãe despedaçada, irmã indignada. “Ia lá no hospital todos os dias que Deus me dava. Estávamos muito tristes, ao mesmo tempo que tínhamos esperança, porque ele já estava mais pertinho”, disse Patrícia. Hérica estava internada no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro. De acordo com a assessoria de comunicação do hospital, nenhum médico poderia falar sobre o estado de saúde da travesti.

 

Investigações

O titular da Coordenadoria da Diversidade Sexual de Fortaleza, Paulo Diógenes, afirmou que outras travestis morreram na mesma avenida onde Hérica foi espancada. “Não é a primeira assassinada, nem a primeira que não se resolve nada”, afirmou. Ele considerou que existe uma situação de invisibilidade, reforçada pela existência da discriminação. “Como se essas pessoas não existissem, como se tivesse morrido para a sociedade, a Polícia e a Justiça”, destacou.

 

Diferentemente do caso da travesti Dandara dos Santos, espancada e também morta, dois dias antes da agressão à Hérica, ainda não houve afirmação da Polícia sobre possíveis suspeitos. Com mais repercussão, em cerca de um mês, os acusados pelo crime contra Dandara — que havia sido filmado por eles próprios — foram presos. “A gente não entende porque o (caso) da Dandara andou tão rápido, e (no caso da Hérica) a delegada não dá uma posição. Não tem nada”, avaliou Paulo Diógenes.


Através de nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou que as investigações estão a cargo do 3º Distrito Policial. Conforme as informações fornecidas, estão sendo realizadas diligências para elucidar o caso. “Informa ainda que mais detalhes sobre as investigações serão repassadas no momento oportuno, para não comprometer o andamento dos trabalhos policiais”, transcreve a nota.


No dia 11 de fevereiro, Hérica saiu com amigos para uma festa de Pré-Carnaval no bairro Jardim América. De acordo com relatos de familiares, a agressão aconteceu no dia seguinte, o mesmo em que ela deu entrada no IJF. Ela perdeu massa encefálica e sofreu traumatismo craniano. A família sempre afirmou que a motivação para o crime foi o fato de Hérica ser travesti.

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