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Colapso começou em presídios e mudou rotina da Cidade
Cotidiano

Colapso começou em presídios e mudou rotina da Cidade

Todos os indícios apontam que atentados em Fortaleza e na Região Metropolitana foram ordenados por facção criminosa como reação à ação do Estado nas penitenciárias. Ataques, que atingiram 21 veículos até a noite de ontem, comprometeram comércio, sistema de transporte público e fez universidades cancelarem aulas
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Intervenções em presídios foram a causa dos ataques que provocaram colapso urbano entre a tarde e a noite de ontem na Grande Fortaleza, segundo informações dos bastidores do Governo do Estado. Publicamente, o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, deixa hipóteses em aberto. Internamente, entretanto, todos os elementos considerados apontam para ações ordenadas por presidiários. Fontes do Governo atribuem a série de crimes a uma reação a medidas que buscam impor maior controle sobre as penitenciárias.

[SAIBAMAIS] 

Na manhã de ontem, houve transferência de 360 presos na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), em Itaitinga, e na Unidade Prisional Adalberto Barros de Oliveira Leal, conhecida como Carrapicho, em Caucaia. Segundo a secretária da Justiça e Cidadania, Socorro França, elas ocorreram a pedido dos próprios presos. De acordo com a secretária, a CPPL II tem cerca de 1,8 mil presos. A capacidade é para 916. Ela informou que ontem houve um “salve” (ordem para ataques a partir dos presídios) contra a entrada de mais presos na CPPL.

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A série de atentados se espalhou pela Região Metropolitana. Na Capital, 12 coletivos foram incendiados total ou parcialmente. Foi ateado fogo também em ônibus em Maracanaú, Eusébio, Horizonte e Pacajus. Dois carros da Cagece e um da Enel também foram incendiados. Um segundo carro da Enel foi alvejado. Veículo do Departamento de Trânsito de Caucaia também foi incendiado.


No bairro Henrique Jorge, na Capital, o sargento da Polícia Militar Paulo César Silva, 48, foi assassinado. O secretário André Costa, porém, minimizou a hipótese de vinculação do crime com os ataques. “Muito provavelmente não. Mas também não quero bater o martelo porque estamos apurando o fato”, considerou.


Mensagens encontradas nos ônibus incendiados reivindicavam os atentados para a facção criminosa Guardiões do Estado (GDE). O texto faz ameaças ao Governo no caso de movimentações nas unidades prisionais, cobra transferências da CPPL II e faz ameaças de ataques a prédios públicos.


Até a noite de ontem, seis pessoas haviam sido presas por suposto envolvimento nas ações, informou a SSPDS. “Não há nada que indique que todos os ataques foram realizados por um grupo. Também não há confirmação que todas as pessoas presas sejam ligadas a esse grupo (GDE)”, apontou o secretário.


O governador Camilo Santana (PT) se manifestou, na noite de ontem, sobre os ataques. Ele e André Costa se reuniram durante a tarde no Palácio Abolição para discutir o tema. “O policiamento foi reforçado e os setores de inteligência mobilizados para identificar e prender cada um dos criminosos envolvidos. Não aceitaremos nenhum tipo de intimidação”, afirmou o governador, via Facebook.


Pico da reação

A partir da compreensão de que os atentados foram reação às iniciativas do Estado, o Palácio da Abolição considerou que as ações perderão força nos próximos dias. “Reações têm um pico e o pico foi hoje”, disse uma fonte do Governo. Porém, a aposta das autoridades estaduais é de que esses grupos não dispõem de estrutura para promover ações como a de ontem por vários dias. Assim, a tendência é de a tensão perder força nos próximos dias.

 

O secretário André Costa garantiu que tropas especiais da Polícia, como o Batalhão de Choque e o Raio, atuarão nas principais vias e linhas de ônibus durante a madrugada de hoje até que a situação “seja normalizada”.


HISTÓRICO DE ATAQUES A COLETIVOS

18 e 19/2/2014. Nove ônibus na RMF e a sede da Secretaria da Justiça (Sejus), no Meireles, são atacados. Segundo a Polícia Civil, os ataques foram retaliação pela morte de Henrique de Sousa Monteiro, conhecido como Henrique do Barroso, de 29 anos. Preso por tráfico, ele foi assassinado dentro da CPPL I, em Itaitinga. O corpo do traficante foi encontrado com sinais de espancamento. Sete pessoas foram presas e um suspeito morreu em troca de tiros com a PM

 

22/4/2014. Dois homens foram presos após tentar incendiar um ônibus no Conjunto Palmeiras, na Capital

 

3/12/2014. Um ônibus foi incendiado no bairro Messejana, em Fortaleza. Dois homens foram presos

 

1º/2/2015. Um ônibus foi incendiado no Siqueira, na Capital. Três suspeitos foram detidos

 

1º/3/2015. Grupo incendiou ônibus no Henrique Jorge, em Fortaleza

 

10/3/2015. Ônibus foi incendiado no Canindezinho, também na Capital

 

13/3/2015. Cinco coletivos foram atacados em Fortaleza e Maracanaú. Crimes teriam sido ordenados por membro da facção criminosa PCC. Suspeito foi preso


30/4/2015. Ônibus foi incendiado na Aerolândia, em Fortaleza. Suspeitos, um adolescente foi preso e outro foi baleado e morto após perseguição da Polícia Militar

 

3 a 6/7/2015. Dois ônibus foram incendiados. O POVO apurou que ataques foram em represália a transferências de dois detentos para presídios federais. Três suspeitos foram presos.

 

17 e 18/7/2015. Cinco ônibus foram incendiados, sendo quatro em Fortaleza e um em Pacajus

 

12/10/2015. Ônibus foi parcialmente incendiado no bairro Bela Vista, na Capital

 

15/10/2016. Grupo incendiou ônibus no Siqueira, próximo ao terminal. Suspeitos fugiram

 

4/1/2017. Ônibus foi incendiado no Jardim Iracema. Transferência de presos também teria motivado a ação


17/3/2017. Três ataques a ônibus foram registrados em Fortaleza. Ações seriam uma retaliação à morte de suposto integrante do Comando Vermelho


*Levantamento não inclui veículos incendiados em protestos de moradores

 

Erick Guimarães, Érico Firmo e João Marcelo Sena

cotidiano@opovo.com.br

 

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