Paulete de Andrade, travesti de 42 anos, sofreu tentativa de homicídio na madrugada de ontem, em Morrinhos, a 200 km de Fortaleza. Ela foi agredida com socos, chutes e facadas por três homens em um bar, próximo ao rio Acaraú. Dois suspeitos, Francisco Edson de Maria e Francisco Edvan de Araújo que, segundo a Polícia já teve relacionamento com a Paulete, foram presos em flagrante. Um terceiro suspeito está foragido. O crime ocorreu pouco mais de um mês da morte de outra travesti, Dandara do Santos, em Fortaleza, que chocou o País.
A travesti está internada em estado grave na Santa Casa de Sobral. Segundo o subtenente Edimar Ferreira, do destacamento de Morrinhos, o crime aconteceu após uma discussão entre Paulete e os três homens, após deixarem um bar próximo ao rio Acaraú, no bairro Beira Rio. Sem chance de defesa, a vítima recebeu chutes e socos na cabeça, além de facadas que atingiram o pescoço e o estômago. A Polícia não descobriu a motivação da agressão.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que os dois homens estavam em liberdade condicional. Eles foram encaminhados à Delegacia Regional de Acaraú. A Polícia continua à procura do terceiro agressor.
Caso Dandara
A execução, filmada e divulgada pela Internet, teve a participação de 12 pessoas, segundo inquérito da Polícia Civil. A investigação é coordenada pelos delegados Bruno Ronchi Vieira, do 32º Distrito Policial, e Arlete Silveira, da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
Dos 12 acusados pela tortura e morte de Dandara, sete são adultos e cinco são adolescentes. Um dos acusados maior de idade, que filmou as cenas de violência, não deve ser indiciado pelo homicídio. Segundo O POVO apurou, o inquérito que individualizou a participação dos maiores foi entregue na última sexta na 1ª Vara do Júri de Fortaleza. A investigação os adolescentes está em fase de conclusão.
Dos sete adultos envolvidos no homicídio, Francisco José Moreira de Oliveira, 21, conhecido por Chupa Cabra, teria sido o responsável por decretar a morte de Dandara dos Santos numa rua do Bom Jardim. De acordo com o inquérito e parte das imagens gravadas por um telefone celular, após ser barbaramente espancada, Dandara foi levada para um canto da rua. Lá, Francisco Monteiro, fora do alcance da câmara, teria disparado duas vezes contra a vítima.
No momento dos tiros, segundo testemunhas e análise da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), Francisco Moreira teria contado com a colaboração de outro adulto. Um homem identificado por “Bin” seria o responsável por jogar o pedaço de um paralelepípedo contra o rosto de Dandara dos Santos. “Bin” ainda estaria sendo procurado pela polícia, enquanto Monteiro está preso desde o dia 12, no 32º DP. (Isaac de Oliveira e Demitri Túlio)
Desdobramentos
Os adolescentes suspeitos de envolvimento na morte da Dandara dos Santos serão acompanhados por uma das varas da Infância e da Juventude de Fortaleza. Eles poderão ser responsabilizados por ato infracional correspondente à prática de homicídio e serem submetidos, dependendo da participação, a internamento de até três anos.
Caso venham a ser denunciados e julgados por um tribunal do júri popular, os adultos poderão pegar de 12 a 30 anos de cadeia, com acréscimo de 1/3 da pena por se tratar de homicídio doloso (quando se tem a intenção de matar). Além disso, de 1 a 4 anos de prisão pela corrupção dos cinco adolescentes.
O promotor Marcus Renan Palácio, da 1ª Vara do Júri, terá cinco dias, a contar de hoje, para denunciar ou não os sete adultos acusados pela tortura e execução de Dandara dos Santos.