Pelas estatísticas que chegam ao conhecimento da organização não governamental (ONG) Transgender Europe, o Brasil foi o país que, em 2016, mais matou pessoas trans no mundo, tendo registrado 98 assassinatos. Na sequência do monitoramento internacional, México (42), Venezuela (12) e Colômbia (9) ajudaram a empurrar as Américas Central e do Sul para o topo do ranking dos continentes que mais mataram. Executada há um mês no Bom Jardim, em Fortaleza, Dandara dos Santos, 42, se tornará mais uma no relatório deste ano, que escancara os crimes de ódio contra travestis e transexuais. Mas, ela fez diferença.
[SAIBAMAIS]Mesmo que em vida não tivesse ambicionado isso, Dandara mostrou às autoridades políticas o quanto é vergonhoso vendar os olhos para qualquer tipo de violência sofrida diariamente por LGBTs. “A brutalidade desse caso e os criminosos terem filmado e publicado... isso foi muito constrangedor. Deixar de dar uma resposta teria sido ainda mais”, analisa o militante LGBT e integrante do Fórum Cearense LGBT, Ari Areia.
Na última sexta-feira, 10, quando sociedade civil, militantes, familiares de vítimas de LGBTfobia e políticos protestaram por efetivação de direitos em frente ao Palácio da Abolição, o governador Camilo Santana (PT) anunciou uma série de ações como o decreto que permite o uso do nome social em serviços públicos prestados pelo Estado e a possibilidade de atendimento a travestis e transexuais na Delegacia da Mulher.
Segundo Narciso Júnior, coordenador especial de Políticas Públicas para a População LGBT do Ceará, essas ações eram demandas que estavam há muito tempo pendentes pela burocracia da gestão pública e só foram efetivadas depois da repercussão que teve o assassinato de Dandara. “Assim como acontece com qualquer outra política, só quando há, por exemplo, um surto de dengue, um quadro de seca, se tomam medidas emergenciais”, compara.
[QUOTE1]Para Ari Areia, a história da Dandara ainda “ampliou a discussão (sobre LGBTfobia) para lugares em que antes não chegava. Quando acontecia um caso tão brutal quanto, ficava por isso mesmo”. O militante diz, também, que o clamor que o assassinato causou “teria sido em vão se não tivesse começado a mover a esfera pública”.
Perfil das vítimas
Dandara tinha 42 anos. Morreu na rua, espancada e baleada. Independentemente da estatística que tenha se tornado muitos dias depois da morte, o nome e a imagem dela passaram a representar esperança por melhorias.
Por quê?
Saiba mais
Estatísticas mundiais
Conforme balanço da ONG Transgender Europe, o Brasil também é o país que, de 2008 a 2016, teve o maior número de assassinatos de pessoas trans no mundo, com 900 mortes contabilizadas.Em números absolutos, em seguida, estão: México (271), Estados Unidos (154), Colômbia (114), Venezuela (110) e Honduras (89).
Rede Trans
Embora a Transgender Europe contabilize 98 assassinatos no Brasil em 2016, a Rede Trans Brasil registra (por meio de dossiê de notícias) terem acontecido 143 casos.Em 78% dos textos, segundo o levantamento feito pela rede, a imprensa desrespeita a identidade de gênero das vítimas.
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