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A escolha da academia

2017-11-19 00:00:00

Por Rossman Cavalcante

 

Além de profissional de Educação Física, sou empresário no setor e sempre procuro imaginar o que passa na cabeça de uma pessoa que decidiu abandonar o sedentarismo e agora busca encontrar o local ideal para sua prática de exercícios físicos. Imagino as dúvidas, as barreiras, as objeções e toda a expectativa que circundam essa decisão.


O que irá realmente definir a “eleição” da academia? Proximidade da casa? Preço? Estrutura física? Número e qualidade dos equipamentos? Competência dos profissionais? Número de likes e comentários nas redes sociais? Um pouco de cada? A minha opinião pode ir contra a ideia de alguns estudiosos do marketing e das vendas, mas uma das vantagens da maturidade é conquistar autonomia para expressar opiniões sinceras sem receio de julgamento externo. O que vai definir, ou melhor, o que deveria definir prioritariamente a escolha da academia é saber se ela tem os requisitos básicos para resolver o principal problema do cliente e é nesse contexto que surge um outro: ele não sabe exatamente quais são esses requisitos básicos. Para ilustrar melhor essa situação vou apresentar dois exemplos:

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EXEMPLO 1:


Imaginem alguém com histórico de sedentarismo e já apresentando alguns fatores de risco para saúde como obesidade, hipertensão, e dores articulares generalizadas, ansioso para iniciar seu programa de exercícios e indeciso em relação onde treinar. Esse mesmo sujeito definiu que seu objetivo primário é emagrecer e compreende que praticar exercícios é uma das intervenções necessárias para atingir essa meta. Em sua perspectiva, qualquer academia que tenha equipamentos minimamente decentes e um profissional ou estagiário de Educação Física para prescrever um programa básico de exercícios que gaste calorias será suficiente e como essa premissa é quase uma commodity no universo das academias, seu critério de escolha provavelmente recairá em fatores como preço, facilidade de acesso ou mesmo escolher aquela que é mais “badalada” no momento.


Bem, o indivíduo em questão até pode conseguir reduzir alguns quilos, porém à custa de sobrecarga sobre estruturas já comprometidas e nós todos sabemos que o desfecho dessa história não é desejável. Não há como negar que quaisquer pessoas que apresentem condições restritivas de saúde, mas não impeditivas para a prática de exercícios físicos, precisam de orientação ESPECIALIZADA, ou seja, a avaliação física, a prescrição e a supervisão dos exercícios deveriam ser realizados por quem tem competência técnica e habilidades específicas para fazê-lo. Nesse exemplo, tenho plena consciência que o cliente não é o culpado, na verdade ele é vítima da pressa por resultados, da propaganda enganosa e da falta de informação qualificada que impera nas vias digitais.


EXEMPLO 2:


Um sujeito recebeu a recomendação médica para iniciar uma atividade física a fim de auxiliar o controle do colesterol e escolheu uma academia mais perto de casa e pelo fato de seus amigos treinarem por lá. Comunicou ao professor o seu problema e seguiu direitinho as orientações técnicas. Após seis meses de treino que incluía três sessões semanais de caminhada leve por 20 minutos, seguida por alongamentos e exercícios funcionais, o obediente aluno realizou novos exames de sangue e para sua surpresa (não minha) constatou que seu colesterol estava praticamente inalterado. Ora, as evidências atuais demonstram que não é qualquer exercício que traz benefício no controle do LDL (colesterol ruim). A meta nesses casos inclui um programa diário de exercícios aeróbios com duração mínima 30 minutos e intensidade moderada combinado com sessões de treinamento de força, preferencialmente com intensidade elevada. Infelizmente nem todos os profissionais de Educação Física detém esse conhecimento específico, e aqueles que têm provavelmente não estarão trabalhando em academias cujo foco de vendas é preço baixo ou “corpo sarado”.


Não tenho pessoalmente nada contra as academias low price e low cost, muito pelo contrário, observei com cautela a entrada dessas operações em nosso mercado e concordo que muitas pessoas deixaram de ser sedentárias e estão treinando em função dessa relação de preço baixo e ótima estrutura física, possível apenas em um modelo de economia de escala. Indivíduos com condições adequadas de saúde, que já têm um certo domínio na técnica de execução dos exercícios e que buscam objetivos mais básicos, relacionados principalmente às questões estéticas, provavelmente ficarão satisfeitos com a entrega do serviço em academias com essa configuração.


Na Educação Física, denominamos de grupos especiais o conjunto de indivíduos que apresentam condições patológicas, fisiológicas ou funcionais que implicam em ajustes e adaptações no programa de exercícios para que seus objetivos sejam alcançados com eficiência e segurança. Se você leitor se enquadra nessa categoria, seus principais critérios de escolha da academia deveriam ser: experiência, capacitação e educação continuada dos profissionais de Educação Física; respeito aos parâmetros seguros de treinamento; foco no cuidado e na atenção aos detalhes; além de indicações por meio de outros profissionais da saúde. Custa mais caro? Certamente sim, mas, quando o assunto envolve saúde e segurança, economizar pode não ser uma boa ideia.


Bons treinos!


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