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Quero baixar a barriga!

2017-10-29 00:00:00
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Essa resposta costuma aparecer logo depois que nós, profissionais de Educação Física, perguntamos qual o objetivo primário ao interessado em iniciar um programa de exercícios físicos. Nada contra a prioridade alheia, mas creio que um esclarecimento básico sobre a estrutura e o funcionamento da região abdominal, além do papel real dos exercícios nesse contexto poderia garantir maior adesão ao treino e evitar frustrações. O pessoal do marketing talvez não fique muito feliz com essa ideia, mas não considero como opção prometer algo que não se pode entregar. Infelizmente essa não é a opinião de muita gente, basta dar um “google” nas expressões “barriga tanquinho”, “abdômen sarado”, “six pack”, “barriga negativa” e outros do mesmo gênero para acessar milhares de promessas de resultados absurdos em tempo recorde.


O que chamamos de barriga é o espaço anterior situado entre a pélvis (bacia) e o tórax. Compreende, de dentro para fora, as seguintes estruturas: a cavidade abdominal, os órgãos internos (intestinos, estômago, fígado etc), gordura visceral que envolve tais órgãos, músculos mais profundos como os transversos abdominais e oblíquos internos, músculos mais superficiais como o reto abdominal e oblíquos externos, a gordura subcutânea (essa que você belisca) e finalmente a pele que “envelopa” tudo isso.


Agora, vamos pensar nos problemas que normalmente acometem as pessoas insatisfeitas com sua barriga e apresentar possíveis soluções:


Grande concentração de gordura na região abdominal: Conforme visto acima, a gordura na região abdominal pode se concentrar tanto na área visceral, quanto abaixo da pele. Níveis elevados de gordura visceral estão diretamente associados a uma série de doenças crônicas, incluindo o diabetes, a hipertensão arterial e a doença coronariana. Isso por si só já deveria ensejar uma série de medidas para reverter esse quadro perigoso, mas, por enquanto, a Ciência ainda não identificou nada mais efetivo do que o somatório das seguintes intervenções: controle nutricional, exercícios físicos regulares e redução do comportamento sedentário extra-exercício (o tempo que você permanece em atividades de baixo consumo energético: sentado, deitado, exposto a uma tela, etc).


Especificamente falando de exercícios, a literatura já demonstrou de maneira bem consistente que não há exercícios específicos para reduzir, de forma isolada, a gordura abdominal. A ideia é produzir um gasto calórico total relevante e promover adaptações fisiológicas que tornem o corpo mais eficiente para utilizar a gordura como substrato energético. A redução do percentual de gordura promovida pelos exercícios acontecerá através de um complexo sistema de produção de energia para gerar movimento. A gordura corporal será utilizada para produzir energia tanto durante, quanto após a prática de exercícios e ocorrerá sempre de forma global, ou seja, realizar mais exercícios abdominais definitivamente não vai reduzir a gordura em torno dessa região e pode até promover algum desbalanceamento muscular e sobrecarga excessiva em estruturas nobres como a coluna vertebral.


Flacidez muscular: Os músculos que compõem a região abdominal também fazem parte do envoltório das vísceras abdominais. A contração desses músculos pode deformar, mobilizar ou fixar o volume visceral dentro da cavidade abdominal. Em contrapartida, músculos abdominais destreinados e flácidos não são capazes de conter o volume das vísceras e, mesmo em pessoas magras, podem resultar em uma barriga proeminente. Nesse caso, exercícios abdominais selecionados de forma específica e executados com técnica rigorosa aliada à respiração correta podem resolver o problema e melhorar bastante o perfil estético.


Flacidez de pele: Imagine a pele como um continente (no sentido de conter coisas) e tudo que está abaixo dela como conteúdo. Se um indivíduo já não ostenta a elasticidade de uma pele jovem e perde “conteúdo”, como por exemplo, ao emagrecer muito, o “continente” (pele) tende a ficar sobrando, não é verdade? Como a prática de exercícios não afeta diretamente o tecido epitelial, para corrigir esse problema, você deverá buscar soluções profissionais da área médica.

Exercícios não previnem e não corrigem flacidez de pele.


Exercícios abdominais: Há certa preferência entre os praticantes de exercícios pelos exercícios abdominais que supostamente afetam áreas restritas ou que trazem algum feedback sensorial sugestivo de esforço concentrado. Quem nunca ouviu (ou falou)?


- “Gosto desse exercício porque sinto meu abdômen queimar.”


- “Esse exercício aqui é ótimo para a parte do abdômen que fica abaixo do umbigo.”


-“Professor, me passa um exercício para afinar a cintura?”


Bem, o propósito dessa coluna não é descrever os mecanismos biomecânicos e cinesiológicos que sustentam a teoria por trás de uma boa série de exercícios abdominais, mas baseado nas publicações mais atuais e críveis, posso garantir que:


1 Nem sempre os exercícios que você “sente mais” são os mais eficientes;


2 Não é possível isolar completamente o trabalho de apenas parte de um mesmo músculo;


3 O respeito à técnica de execução e a necessidade de ajustes individuais potencializam os resultados dos exercícios abdominais;


4 Estratégias que se mostraram bem sucedidas incluem diversidade de estímulos, explorando os movimentos e a capacidade de estabilizar de cada músculo que compõe essa região corporal.


Resumindo: Esquece o atalho, aposenta o “blogueiro fitness”, pede ajuda profissional, concentra e vai treinar!


Bons treinos!!!

Adriano Nogueira

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