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Sobre fazer sentido

2017-01-21 17:00:00
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POR ROSSMAN CAVALCANTE

 

Pode parecer contraditório que em plena era da informação ainda existam tantos mitos e falsas promessas envolvendo a prática de atividade física. Contudo, na minha opinião, os principais motivos que justificam essas crenças sem fundamento residem na análise rasa do universo de conhecimento que permeia o meio “fitness”, além da inegável preferência humana pelo mais fácil, mais cômodo e mais rápido.


Em tempos de mídias sociais, divulgar uma pesquisa de baixa qualidade metodológica ou com evidente conflito de interesses para vender uma ideia é, no mínimo, desonestidade intelectual com o grande público que não dispõe de ferramentas adequadas para separar o joio do trigo. Não, eu não estou subestimando o conhecimento do público consumidor. Estou apresentando uma situação facilmente comprovada por pesquisas mercadológicas que demonstram o imenso potencial de venda dos produtos e serviços que, no final das contas, pouco entregam em relação aos benefícios prometidos.


Ideias sem qualquer comprovação científica são aceitas como verdade simplesmente porque fazem algum sentido. Fazer sentido não é um pressuposto da Ciência, especialmente quando não se domina um determinado tema. Exemplo: para uma pessoa interessada em “perder a barriga”, faz muito mais sentido a ideia de realizar abdominais para afinar a silhueta, afinal a pessoa estará exercitando os músculos da mesma região que se quer perder gordura, vai experimentar aquela sensação de “queimação” na barriga e várias pessoas conhecidas com a barriga tanquinho (incluindo celebridades fitness) também fazem muitos abdominais. Aí vem o profissional de Educação Física tentar explicar que o controle nutricional aliado à prática de exercícios gerais com intensidade adequada são mais eficazes para reduzir gordura abdominal... É difícil de acreditar, exige mais sacrifício, não parece fazer sentido, mas é o que funciona segundo pesquisas bem conduzidas ao longo dos últimos anos.


Não faltam propostas tentadoras e métodos inovadores com resultados em curtíssimo prazo, preferencialmente apresentados por indivíduos carismáticos com palavras cheias de energia e motivação, mas resultado que é bom... Enfim, creio que os profissionais de saúde em geral não estudaram tanto para dizer aos seus clientes exatamente aquilo que eles querem ouvir. Para motivar alguém, eu não preciso gerar expectativas falsas e tenho que estar pronto para negar quando preciso e não quando for conveniente.


- “Mas professor, um amigo do meu primo experimentou aquela novidade e melhorou bastante.”


Não duvido quando sou confrontado com esse tipo de argumento defendendo algum exercício ou método de treino sem qualquer respaldo, pois compreendo que para sedentários e iniciantes, QUALQUER treino dará resultado. O que questiono é a que preço em termos de saúde? Ou ainda, se esse é o melhor resultado possível para aquele caso?


Fiquem atentos! Profissionais na área de saúde deveriam se utilizar de recomendações baseadas em evidências, normalmente publicadas em periódicos científicos indexados nas principais bases de dados especializadas. Isso não quer dizer em absoluto que apenas a informação de cunho científico tem valor. Creio que a experiência, o bom senso e o valor dos fatos preenchem muitas das lacunas deixadas pela Ciência moderna, mas, ao difundir informações relacionadas ao exercício que podem impactar na saúde das pessoas, é preciso muita responsabilidade. E nada melhor que fundamentar suas decisões em hipóteses que já foram testadas, comprovadas ou refutadas.


Adriano Nogueira

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