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Há 98 anos, teoria de Einstein era confirmada em Sobral

17:00 | 06/05/2017
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Por Dermeval Carneiro

 

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Caros amigos leitores da coluna Visões do Cosmos, no artigo de hoje chamamos a atenção para o famoso eclipse de 1919. No próximo dia 29 de maio completam-se 98 anos que esse eclipse foi observado com o mais alto interesse científico, especialmente em duas localidades: na Ilha do Príncipe, situada no Golfo da Guiné, e em Sobral no Ceará. O principal objetivo era comprovar a deflexão (curvatura) do raio luminoso, prevista por Albert Einstein na sua Teoria da Relatividade Geral.


Ao longo dos séculos, os eclipses foram associados a mitos e lendas por vários povos de várias civilizações. Anunciavam maus presságios e, nas ocasiões de suas ocorrências, serviam para cultos religiosos e sacrifícios. Para os antigos chineses, uma lenda conta que durante um eclipse, um dragão devorava o Sol e logo depois o regurgitava. Para os antigos egípcios, a serpente Apófis, inimiga do deus Rá (Sol), periodicamente se colocava à frente do Sol, impedindo que sua luz atingisse a Terra.


Mas, mesmo na Antiguidade, a observação dos eclipses já tinha algum cunho científico. Sabe-se, por exemplo, que Tales de Mileto conhecia o período Saros, de ocorrência dos eclipses. No início do século XIX, as observações científicas dos eclipses tiveram especial atenção dos astrônomos e trouxeram várias descobertas.


Desde que Einstein divulgou suas ideias iniciais sobre a gravitação, vários cientistas, inclusive o próprio Einstein, pensaram em testar essa nova teoria através da observação de um eclipse solar. A teoria previa uma curvatura do raio luminoso ao passar por um campo gravitacional muito intenso, como é o caso de uma estrela como o Sol.


O que poucos brasileiros sabem é que foi realmente em Sobral-CE que foi comprovada pela primeira vez a teoria de Einstein. Em seu artigo, publicado na Pesquisa On-line — FAPESP (4 de maio de 2009), o professor Dr. Augusto Damineli, um dos mais importantes astrofísicos brasileiros da atualidade, escreve: “Existe um fato curioso sobre esse evento: as melhores provas do ‘efeito Einstein’ (como era chamada a deflexão da luz pela gravidade) foram obtidas no Brasil, em Sobral, mas isso foi esquecido pela maioria dos autores atuais, que só associam o feito às ilhas Príncipe, no Golfo da Guiné, perto da costa ocidental africana. O próprio Einstein, em passagem pelo Rio de Janeiro, teria reconhecido: “O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil”. A falha de reconhecimento à importância de Sobral precisa ser corrigida, não só porque a demonstração da deflexão aconteceu aqui, mas porque o sucesso da missão inglesa que comprovou a teoria de Einstein se deveu, em parte, ao apoio logístico e levantamentos climáticos feitos por Henrique Morize, então diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro”.


A comissão inglesa que veio a Sobral, encarregada da verificação do “efeito Einstein”, foi chefiada pelo Dr. C. D. Cramelin acompanhado do Dr. C. Davidson. A comissão brasileira foi chefiada pelo Dr. Henrique Morize, então diretor do Observatório Nacional, que trouxe os astrônomos Domingos Costa, Lélio Gama, Teófilo Lee, Luís Rodrigues e Arílio de Matos.


Instrumentos astronômicos de primeira qualidade, para a época, foram montados para a observação do eclipse — um astrógrafo de 13 polegadas de abertura por 3,5 metros de foco, um telescópio de 4 polegadas e 6 metros de foco e um celóstato (instrumento que faz o Sol “parar”) para melhor observação e fotografia.


O local de observação do eclipse foi a Praça do Patrocínio em Sobral, onde foi inaugurado em 29 de maio de 1999 (ocasião dos 80 anos do eclipse) o Museu do Eclipse e o Observatório Astronômico Henrique Morize. Recentemente, em 29 de maio de 2015, por ocasião do 96º aniversário do famoso eclipse, foi inaugurado o Planetário de Sobral no mesmo espaço.


Outras expedições para observação de eclipses do Sol com o objetivo de comprovar a teoria de Einstein foram realizadas, porém frustradas. Em 1912, em Passa Quatro (Minas Gerais) a tentativa foi fracassada. Em 1914, na Alemanha, foi impedida por razões políticas. Em outra, na Argentina, em 1916, o mau tempo não permitiu as observações. Mas, em 1919, o luminoso céu de Sobral permitiu e foram feitas excelentes observações.


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