Quem controla os controladores?
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Quem controla os controladores?

2018-11-18 00:00:00

Jair Bolsonaro comete mais uma "barbeiragem" diplomática: provocou o cancelamento da participação de médicos cubanos no programa Mais Médicos. A decisão foi uma resposta do governo de Cuba às grosserias do presidente-eleito contra seus profissionais. Os cubanos, como se sabe, só iam para lugares refugados pelos profissionais brasileiros (sobretudo, municípios do interior do Norte e Nordeste, comunidades indígenas e quilombolas e populações dos bairros periféricos das grandes cidades). Com sua saída, fica um rombo de cerca de 10 mil médicos na assistência brasileira. Dificilmente terão substitutos. Primeiro, porque não existem; segundo, porque a maioria dos médicos brasileiros rege-se por critérios de mercado e não se sente atraída a atuar fora dos grandes centros.

 

Os médicos cubanos, na realidade, são funcionários do Estado em missão voluntária no Exterior. Pelo trabalho realizado, recebem um adicional (cerca de um quarto do salário integral do Mais Médico) ao seu salário, o restante vai para o Estado cubano. Por que? Porque como servidores públicos continuam a receber seu salário normal em Cuba, enquanto trabalham aqui, e a ter acesso a todos os direitos sociais: ensino e material escolar gratuitos para os filhos, prestação médica e hospitalar para si e a família, moradia e aposentadoria. Bem ao contrário de outros médicos que têm de pagar de seu bolso essas despesas.

 

A economia de Cuba tem no setor de serviços uma alternativa para obter divisas. Isso acontece com o Turismo e com a locação de médicos excedentes para países que deles necessitem. Esse tipo de contrato é realizado por um organismo internacional. Tem analogia com os serviços oferecidos por uma empresa de locação de mão de obra, só que, aqui, se trata de funcionários do Estado, com estabilidade e todos os direitos sociais assegurados. A sociedade cubana bancou a formação educacional gratuita desses profissionais, desde o berço, e abre esse voluntariado para quem deseja realizar essa missão no Exterior, tanto como forma de retribuição ao que a pátria fez por eles, como para praticar o internacionalismo humanitário, marca da sociedade cubana. Por isso exercem a Medicina como se fosse um sacerdócio (basta indagar a população atendida), trabalhando nas regiões mais inóspitas.

 

Se um dia certos médicos brasileiros que chamam os cubanos de "escravos" trabalharem como terceirizados - como promete a reforma trabalhista - aí, sim, verão o que é ser escravo das empresas que os explorarão, sem lhes dar os direitos e a proteção social, como desfrutam os médicos cubanos.

Nesta semana, também foi anunciado o novo chefe da diplomacia brasileira - Ernesto Araújo, um desconhecido que nunca chefiou uma embaixad. Manter uma página na internet, onde classificou o PT de "Partido Terrorista", apresentar-se como fervoroso fundamentalista religioso e ver em Donald Trump o "salvador" da "civilização ocidental e cristã" e garantidor do "plano de Deus na História" parecem ter sido as credenciais para a escolha. Estamos bem servidos.

 

Já as palavras do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, revelando que havia um veto militar à candidatura Lula foi um choque de realidade sobre os tempos que estamos vivendo. Confessou que ele próprio (comandante) ao fazer uma advertência ao STF na véspera do julgamento do habeas-corpus de Lula, havia chegado "ao limite". Caso o HC tivesse sido concedido, a coisa poderia ter saído do controle (pode isso na democracia?). A que ponto chegamos...

 

Vem mais: há gente se movimentando para cassar o registro do PT e ilegalizar o MST e outros movimentos sociais, enquadrando-os na lei antiterrorismo. Lembram-se do que fizeram contra o Partido Comunista em 1947? Terminou em 1964. Ora, o PT é o único partido de massas verdadeiro no Brasil. São quase 40 anos de enraizamento social. Elegeu agora a maior bancada individual da Câmara dos Deputados. Se for ilegalizado, os progressistas que entraram na armadilha suicida de isolar o PT e Lula logo serão guilhotinados também, junto com a própria democracia.

 

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