Apareceu a margarida - Olê, olê, olá! 

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Apareceu a margarida - Olê, olê, olá!

2018-11-04 00:00:00

Não para de repercutir a nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça - agora transformado em superpoder, depois da fusão das estruturas da Justiça, Segurança Pública, Transparência, Controladoria Geral da União e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Se fosse um governo de esquerda a fazer isso, o mundo desabaria, pois seria acusado de criar um monstro autoritário para ter em suas mãos os membros de todas as instâncias do poder público (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como do poder econômico nacional (não, naturalmente, do capital estrangeiro, o verdadeiro controlador) através do acesso ao bolso dos seus componentes e da "persuasão" que isso proporciona.

 

Mas, o questionamento que antecede a isso é ético: o que dizer de um juiz que "mobiliza o país inteiro para a prisão do candidato mais popular de uma eleição, vaza informações de forma deliberada para influenciar resultados da campanha e, ao final, recebe do candidato vencedor - aquele que, por coincidência, foi o mais beneficiado por suas intervenções - um cargo de destaque em seu governo" (indaga o professor e filósofo Vladimir Safatle). A derradeira intervenção de Moro no quadro eleitoral e político do País foi o vazamento da delação do ex-ministro Antônio Pallocci, às vésperas do 1º turno eleitoral. Aliás, ele já fora contatado ainda antes do 1º turno, segundo o vice, general Hamilton Mourão, o que torna o escândalo ético ainda maior.

 

Isso apenas confirma, segundo a quase totalidade dos analistas o papel político e estratégico da Operação Lava Jato como um projeto de poder, camuflado sob aparência jurídica. Pior: como parte de uma estratégia geopolítica estrangeira, de largo alcance, que tenta moldar a face do planeta e demolir o Estado Social para que o processo capitalista retorne aos moldes semelhantes aos do Estado Liberal do século XIX, o que exige subordinação total ao poder absoluto dos mercados, a anulação do Estado nacional e a submissão a um poder central internacional dominado pelo capital financeiro e concentrado nas mãos do 1% mais rico.

 

A revelação pela Lava Jato de alguns dos subterrâneos da corrupção foi merecedora de aplausos universais. Quem poderia ser contra? Contudo, logo foram se desvelando aspectos dissonantes:

 

1º) a seletividade da investigação. No caso da Petrobras, foi limitada ao período dos governos do PT. Nada de investigar as que surgiram no governo FHC (US$ 50 milhões depositados por diretores da estatal em contas na Suíça, em 1997, segundo o jornalista Paulo Francis. Já o empresário Ricardo Semler revelou, em artigo memorável, o esquema de propinas durante a ditadura). A lógica e a justiça exigiam o rastreamento dos esquemas até sua origem, se o propósito fosse realmente o de desbaratar a corrupção. Mas o plano era apenas derrubar o governo do PT.

 

2º) A prática prevalente nos países desenvolvidos quando surgem denúncias de corrupção é investigar, punir os responsáveis e multar as empresas, mas, evitando sua falência, pois o principal é garantir a produção, os empregos e a arrecadação. Isso poderia ter sido feito pela Lava Jato. Mas ela optou pelo desmonte da indústria naval, da petroquímica e de toda a cadeia de óleo e gás, bem como da engenharia nacional e das grandes empreiteiras que disputavam com êxito o mercado em vários continentes. Por quê? Mistério. No seu rastro, milhões de empregos desapareceram, as obras de infraestrutura estratégicas ficaram paralisadas, a arrecadação caiu e a economia nacional foi levada à breca. O que a Lava Jato recuperou para os cofres públicos é uma migalha se comparado aos prejuízos econômicos resultantes para o País e o retrocesso em todas as áreas. Moro poderia ter punido as mesmas pessoas sem levar o País à ruína.

 

3º) A Lava Jato abriu espaços para o estado de exceção e colocou o Estado brasileiro sob o protetorado do Departamento de Justiça do país concorrente (EUA), estabelecendo convênios diretos com uma potência estrangeira, sem passar pelos controles que regem a relação do Brasil com governos estrangeiros, o que deveria, por si só, levar ao enquadramento dos responsáveis na Lei de Segurança Nacional - tudo segundo estudiosos do assunto. No entanto, após um processo eleitoral distorcido pelo afastamento ilegal (segundo a ONU) do líder absoluto das pesquisas e de uma avalanche de fake news, se atinge a culminância de um processo conspiratório iniciado desde o primeiro governo Lula, com o engajamento de setores do empresariado, da grande mídia e do Judiciário para entregar o Brasil nas mãos do capital financeiro e seu projeto neoliberal, de acordo com os críticos. 

 

Com a nomeação de Moro para a Justiça, finalmente apareceu a margarida.

 

Valdemar Menezes

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