PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

De volta ao passado

2017-11-12 00:00:00

Ironicamente, na semana de rememoração da Revolução de Outubro, o Brasil, fez retroceder os trabalhadores brasileiros a relações trabalhistas anteriores a 1917, ao pôr fim, neste sábado, à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que serviu durante 74 anos como escudo protetor dos trabalhadores brasileiros contra a superexploração de sua mão-de-obra. Legislação que foi uma consequência tardia das conquistas sociais que se seguiram no mundo do trabalho após a Revolução Russa. A “reforma trabalhista” de Temer & Cia é o que se poderia esperar de um Congresso Nacional composto, quase totalmente, de empresários, ruralistas e testas-de-ferro dos banqueiros. Como a grande massa dos trabalhadores é filiada a sindicatos débeis, sem nenhuma condição de negociar, de igual para igual, com os patrões (nos acordos coletivos que agora se sobreporão à legislação) dá para se ter noção sobre quem ditará as condições.
 


CONTRAPESO


Essa ofensiva do capital já fora detectada em todo mundo capitalista, desde que a União Soviética (URSS) naufragou. Sua simples presença no cenário servia de contenção ao liberalismo extremado. Seu modelo de capitalismo estatal, embora tosco, era mais avançado, em termos de justiça social, do que o representado pelo modelo americano. Os EUA, embora sejam o país mais rico do mundo, continua a produzir profundas desigualdades internas. Certo, a organização econômica mal-ajambrada da URSS fez surgir um “gigante de pés de barro”. A vulnerabilidade se deveu à opção voluntarista de construir o socialismo, sem passar, primeiro, pela etapa do desenvolvimento capitalista, e circunscreve-lo a um único país, num mundo dominado por relações comerciais capitalistas. Resultado: ao invés de socialismo deu lugar a um capitalismo de Estado, xucro, dirigido por um estamento burocrático despótico, em substituição a um autogoverno de trabalhadores. Fosse Lênin, Trotsky, Stálin ou outro, nada teria impedido o futuro desmoronamento da URSS, dada a opção voluntarista.
 


MÃOS DESEMBARAÇADAS


Desaparecida a União Soviética, os capitalistas se viram com as mãos desembaraçadas para desmontar o Estado social em todo o mundo, fazendo retroceder as conquistas obtidas pelos trabalhadores desde 1917. É o que vem acontecendo, desde então. O desastre é mais devastador nos países de desigualdades mais extensas, como é o caso do Brasil, que tinha na CLT a única guarida para os que são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver. O golpe de 2016 foi urdido, também, por razões, geopolíticas americanas. O avanço da China sobre o mercado mundial, impulsionado por um modelo econômico exitoso que libera as forças de mercado, mas não permite que estas se apoderem do poder político, tornou-se o maior desafio enfrentado pelos EUA, ameaçados de serem desbancados da posição de primeira superpotência mundial, até 2050.


GEOPOLÍTICA
 

É corrente a versão de que o Departamento de Estado, frente a isso, resolveu fazer uma limpeza em seu quintal (América Latina), destituindo governos não sintonizados com o modelo econômico neoliberal. Por fazer parte do Brics, bloco que tenta resistir a essa imposição, o Brasil tornou-se o alvo preferencial de Washington e foi abatido. Antes, espionagem nos telefones e e-mails da presidente Dilma Rousseff e em todo aparelho de Estado e, sobretudo, nas estatais estratégicas, como a Petrobras, atualizara informações de esquemas de corrupção na empresa (que já se conhecia desde época anterior à ditadura), conforme deixaram entrever documentos do Wikileaks e o testemunho de empresários sérios como Ricardo Semler. Ficaram contrariados também com o avanço da pesquisa atômica desenvolvida pelo País. E, mais ainda, com o reforço econômico trazido pelo pré-sal. Sem falar na revigorada indústria naval e na portentosa engenharia nacional.
 

ESTREIA
 

Análises apontam que os pauzinhos começaram a ser mexidos bem atrás, desde a primeira tentativa de Lula à presidência da República. Não conseguiram impedir sua vitória, mas sabiam da podridão das forças a que fora obrigado a se aliar para poder governar. Entrou então o plano para desmoralizá-lo. Uma filmagem do suborno de um funcionário dos Correios, aliado de Roberto Jefferson, a mando do bicheiro Carlinho Cachoeira, e sua atribuição a José Dirceu alimentaram um esquema poderoso na mídia para espalhar as versões convenientes aos conspiradores. O que era caixa 2 corriqueiro transformou-se em mensalão para comprar apoio ao governo. O resto é conhecido. O julgamento do mensalão subverteu procedimentos consagrados pelo Direito Processual Penal, entremeou-se com a luta pelo poder, tendo aberto as portas, para o estado de exceção capitaneado, mais tarde, pela Lava Jato,
segundo seus acusadores.
 

DESMONTE
 

Hoje, o País está prostrado pelo desmonte, ilegítimo, do modelo econômico inclusivo e nacional; o pré-sal, os bancos e empresas públicas entregues a preço de banana a concorrentes estrangeiros; a cadeia de gás e petróleo, desmontada, junto com a indústria naval e a engenharia nacional; os direitos sociais e trabalhistas reduzidos a um simulacro, o desemprego alcança 13 milhões de pessoas; e o corte dos programas sociais recoloca o Brasil no Mapa da Fome. Frutos de um governo apoiado por 3% da população e um Congresso que só representa o capital.

Valdemar Menezes

TAGS