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Perfídia e despudor

2017-02-04 17:00:00

A morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia expôs o rosto fascista que o Brasil sempre teve acanhamento de mostrar. Certo, nos golpes anteriores, o fascismo nunca deixou de mostrar a cara, mas, com o surgimento das redes sociais o descaramento atingiu proporções inimagináveis de despudor e falta de escrúpulos. É preciso lembrar que isso foi alimentado, durante anos, por uma campanha incessante de ódio contra o pensamento progressista. Tudo inoculado por segmentos bastante identificados, inconformados com o fato de ter surgido, na época, uma alternativa política (PT) fora do esquadro tradicional, que se traduziu na primeira postulação de Lula à presidência da República (logo derrotada por uma manobra descarada que deu vitória a Fernando Collor). Lula era de outro campo ideológico e contra ele passou a valer tudo. Mesmo assim, seu projeto garantiu 12 anos de conquistas sucessivas, na economia, na área social, na cultura e na política externa.


PERSEGUIÇÃO

Quem levantou a bandeira anticorrupção como pretexto para depor o governo legítimo – pasmem – foram corruptos notórios ou dissimulados que se apoderaram do Congresso Nacional para seus fins. Além da defesa de interesses próprios, havia também o jogo das forças estrangeiras que moviam os cordéis para destruir a liderança que o Brasil ganhava no cenário internacional por fugir do cabresto neoliberal – tudo denunciado por documentos do Wikileaks. Não poderia faltar a estratégia de destruição das lideranças nacionais, sobretudo Lula. Daí a descarada campanha de perseguição a ele e sua família, que culmina agora com o sacrifício da vida de dona Marisa Letícia. Não se tolerou que uma ex-babá – e militante ativa da causa social - tivesse a ousadia de acompanhar o marido, um ex-sindicalista operário, na ocupação do posto mais alto da Nação, invadindo uma área reservada exclusivamente para os filhos da elite donatária.

 

DOIS PESOS

A nomeação de Moreira Franco para a Secretaria Geral da Presidência da República, tão logo foram homologadas as delações da Odebrecht, foi vista por grande parte da opinião pública como um subterfúgio para lhe dar foro especial, impedindo-o de ser ouvido na primeira instância, onde foi delatado por mais de um denunciante. Numa das delações, firmada pelo odebrechtiano Claudio Melo Filho, teria recebido propina de R$ 4 milhões. Se seguisse o que fez com Lula, o ministro do STF, Gilmar Mendes, a esta hora estaria acusando Franco de “obstrução da Justiça” e o impediria de assumir o cargo de ministro. Exatamente o que alegou contra Lula, impedindo-o de assumir o cargo de ministro da Casa Civil, logo após ser nomeado pela então presidente Dilma Rousseff. Um ato jamais visto no sistema presidencialista, pois a prerrogativa da nomeação de um ministro é do presidente da República, que o demite ad nutum, se quiser. Mas, como era Lula, isso não vem ao caso. Por isso, os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS), Wadih Damous (PT-RJ) e Chico D’Angelo (PT-RJ) protocolaram no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação contra a nomeação de Moreira Franco. E pediram para ser julgada por Gilmar Mendes.

EXTERMÍNIO

Da simples disputa política passou-se ao plano de extermínio político puro e simples de Lula, o “estranho no ninho”. Para isso foi deformado o aparato institucional do Estado – sem poupar os três Poderes - para fazê-lo dobrar-se à estratégia das forças internas e seus aliados e apoiadores externos, que vinham buscando, desde a época de Getúlio Vargas, a oportunidade de inviabilizar o modelo de desenvolvimento soberano que privilegiava o capital produtivo, a indústria nacional, a criação de empregos, a defesa dos recursos naturais e do patrimônio público estatal, a inclusão social e a política externa independente. A privatização, em retalho, da Petrobras e a distribuição do pré-sal por entre às multinacionais do petróleo - um dos objetivos principais do golpe – chegam agora ao seu epílogo.

SOFISMAS

Pedro Parente publicou esta semana um artigo com argumentos considerados falaciosos, pelo jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço, e prontamente refutados por ele. Depois de desmentir que a política de conteúdo nacional discrimine empresas estrangeiras (apenas exige que produzam aqui), e o sofisma de que as empresas brasileiras não teriam capacidade para atender às encomendas, o jornalista ponderou: ``Será que uma indústria naval que já foi a segunda maior do mundo, que foi capaz de produzir, nos anos 80, os dois então maiores navios do mundo, o Docefjord e o Tijuca, não tem condições de produzir petroleiros e sondas? Claro que tem e, embora possam custar um pouco mais e pedir prazo um pouco maiores, geram emprego, renda, encomendas a cadeias de fornecedores para brasileiros”. Faltou dizer que a Petrobras é uma empresa estratégica, planejada para dar suporte ao projeto nacional e só secundariamente prover dividendos para acionistas privados (o que poderia ser considerado, figurativamente, uma espécie de desvio de função).

Adriano Nogueira

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