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Tem nem perigo!
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

Tem nem perigo!


Menino, na companhia de nove irmãos 'malinos, lobriguentos e embuanceiros', o medo maior de uma danação descoberta por mãe não era ficar de joelhos sobre caroços de milho seco, ou levar meia dúzia de nove ou dez lapadinhas de cinturão. O que lascava era ficar 'dipendurado' no armador da sala, sentado numa cadeira. Verdadeira tortura, pela altura e o líquido e certo despencar lá de cima, 'em risco de fazer um arte' - desmentir a perna, o braço, o mucumbu.

 

Como existe gente pra tudo que é modelo nesse mundo, o Quimede (mano Arquimedes, encostado de mim) achava aquele um privilegiado castigo, coisa do Deus Bom. A melhor das brincadeiras. Demais choravam com o castigo da cadeira no armador da sala e ele ficava era se abrindo, mangando do povo de casa, mijando do alto e até dando chulipa em briba que passasse ao perto. Dava o maior dez. Pai, 'inzambuado', vendo a arrumação de Quimede, gritava:

 

- Ô, cabeça de rapa-coco! Tu num tem um pau pra dar numa gata e fica aí frescando! Senão eu te boto já pra 'disgotar' a fossa, mergulhando! Não é assim que se esfola um bode, rapazim!

 

O segredo pra passar no vestibular

 

O amigo jornalista Luiz conta outra história legal. "Final da primeira metade dos anos 1970. Um grupo de cinco jovens, todos primos, vivia a ansiedade da aproximação do primeiro vestibular de suas vidas. Ingressar na universidade era o sonho maior de cada um. Os mais estudiosos faziam planos para os cursos mais procurados pela clientela de CDFs. Os outros, fora desse ranking, queriam qualquer coisa. O importante era ser universitário, o que dava um cartaz danado naquela época, quando só havia três portas de entrada: UFC, Uece e a recém-criada Unifor".

 

Ante a pressão familiar por bons resultados, uma válvula de escape era preciso. Luiz conta que em um certo final de sexta-feira (janeiro de 1975), há poucos dias da maratona de provas, um deles trouxe sugestão bacana para aliviar as tensões: ida ao Mangueiral, famoso cabaré localizado no Montese. Sugestão aceita de pronto por todos. A ideia era saborear algumas cervejas e depois "amar e querer bem". Todos, na casa de prazeres, posicionados na mesa. Garçom se aproxima e logo o pedido:

 

- Por favor, duas cervejas bem geladas!

 

Brahmosa já em mão, o garçom mira o de mais baixa estatura, pouco mais de um metro e meio, e faz a cobrança:

 

- Identidade, moço!

 

O jovem fica indignado e solta o desabafo:

 

- Marrapaz! Tinha que ser mesmo comigo!

 

Mesmo aos 19, o caba não aceitava que sua maioridade fosse colocada a prova. Apresentou a identidade expedida poucos meses antes. Mas, só pra fazer o mal, decide pela abstinência sexual por toda a noite naquele local de prazer. Quis ir embora, porém, contido pelos primos, permaneceu à mesa, observando o ambiente, digerindo alguns goles. Nem mesmo os carinhos de uma morena fogosa que veio fazer-lhe companhia foram suficientes para fazê-lo mudar de ideia.

 

Ficou a esperar que os amigos concluíssem a odisséia bilubilulesca, pensando consigo.

 

- Fico, mas não faço cavilação com ninguém!

 

"Coincidência ou não, o único do grupo que não logrou bom êxito no vestibular foi justamente o jovem que optou por esnobar a morena".

 

Foto do Tarcísio Matos

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