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Todos em Portugal
Foto de Socorro Acioli
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Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro

Todos em Portugal


Por todos os lados as pessoas anunciam que vão embora para Portugal. Enquanto corto cabelo ou compro algo na farmácia, surge um conhecido e conta a decisão. Um casal amigo vendeu a empresa, a casa e o carro e agora está só escolhendo em qual cidade vão morar em terras lusitanas. Outra já raspou o que tinha e comprou um apartamento pequeno no Porto. Uma família amiga, do Rio de Janeiro, fez o mesmo movimento. Até a Luana Piovani está seguindo o plano, vejam só.


A primeira preocupação é de ordem prática e geográfica: vai caber? O país é minúsculo, é uma faixa estreita de terras lindas. Já leio reclamações sobre os modelos de apartamento e a falta do quartinho de empregadas. Outra pergunta: a classe média alta que segue em trânsito vai mudar o modus vivendi e sobreviver sem o suporte de babás e faxineiras que faz parte da cultura das famílias no Brasil?

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É compreensível o desejo de sair de um país que parece afundar, com placas de venda espalhadas nos postes, muros e portões. Este ano tem eleição e tudo o que está ruim pode piorar. Corremos o risco de ver o Brasil nas mãos de um presidente despreparado, desequilibrado e violento. Deus nos livre. A situação de insegurança justifica a partida. Mas por que Portugal? Por que de repente tanta gente despertou olhando na mesma direção?


Sei que devem existir explicações na economia, nos tratados de cooperação, nas relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, uma terra encantadora, de fato. Transformar azulejos em arte, escolher nomes lindos para batizar as ruas, as cidades, tudo isso é natural nesse povo. O curioso é ver o Brasil apaixonar-se perdidamente por Portugal assim, em massa. Como efeito de algo que mudou de uma vez em todo mundo.


Se pensarmos na História, é como se fosse um movimento de um país em busca do seu pai. Somos, sim, filhos de Portugal. Falamos português e lá nos reconhecemos como parte. Ou deveríamos nos reconhecer. O uso da língua nos dois países é muito diferente. Portugueses são literais e às vezes quase poéticos na linguagem do dia a dia. Mas não são tão abertos e festivos, nem demonstram entusiasmo como fazemos tão facilmente.


Outro sinal dessa aproximação está na Literatura. O Brasil lê e ama Saramago, Valter Hugo Mãe, Matilde Campilho, João Tordo, Teolinda Gersão, José Luis Peixoto, Gonçalo M Tavares, Lidia Jorge, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e tantos outros portugueses. Muitos deles estão sempre nos eventos literários mais importantes, publicam por editoras brasileiras, fazem parte do nosso repertório de leituras.


Há também uma forte presença na universidade, como tema de disciplinas e excelentes pesquisas. É um fenômeno migratório digno de atenção. Estou torcendo para que dê certo, mas prevejo alguns choques culturais severos. Torço também para que não levem o ruim do Brasil para essa terra tão linda. Se a ideia é viver melhor, os portugueses têm muito a ensinar.


 

Foto do Socorro Acioli

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