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A Grande Magia
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Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro

A Grande Magia


O mundo está confuso demais para que percamos tempo condenando livros de autoajuda. Se estão ajudando mesmo, que sigam seu caminho. Muita gente precisa de suporte para manter a sanidade mental no momento conturbado em que vivemos. Não é o gênero de minha predileção, mas leio um ou outro, de vez em quando. É saudável diversificar as leituras, abrir outras janelas dentro da cabeça. Ruim mesmo é posar de literato chato, que despreza o gosto dos outros.

Para sustentar minha defesa, vou falar de um dos melhores livros do gênero: A Grande Magia, da Elizabeth Gilbert.


Quando soube que era um tratado sobre criação, fui atraída pela curiosidade. Eu realmente queria saber o que a autora contaria de sua vida nesses dez anos após o estrondoso sucesso de seu primeiro livro Comer, Rezar e Amar – traduzido para 30 idiomas, mais de 10 milhões de cópias vendidas ao redor do mundo e transformado em filme, com Julia Roberts no papel principal. O final feliz de Elizabeth foi conhecer um brasileiro e viver uma história de amor com ele.

Interpretado no filme pelo espanhol Javier Bardem, ele explica o conceito de falsa magra para o público mundial.


Eu também li Comer, rezar e amar, além de alguns artigos sobre sua recepção.

Foi uma epidemia de libertação, um surto de adolescência tardia. Seria genial se alguém entrevistasse as mulheres que venderam tudo e saíram pelo mundo na mesma jornada da Elizabeth Gilbert. Renderia um tratado sociológico. Sobre o texto em si, ele é só isso mesmo que promete: uma história individual, uma experiência, um relato.


A Grande Magia é também um relato pessoal sobre a jornada da autora diante da decisão de viver para escrever. De vez em quando, ela abre janelas para discutir questões mais amplas sobre o assunto. Ela condena, por exemplo, o modelo do artista atormentado, que escreve como quem sangra, que sofre e faz de sua decisão profissional uma condenação. Segundo ela, adoecer e passar fome são indícios de que algo está errado, não de uma decisão heroica de um artista incompreendido.


Meu capítulo preferido é sobre os casos de pessoas que passam a vida dizendo que têm um grande projeto artístico e nunca se dedicam a ele nem por um segundo. Paralisadas pela inércia, medo, perfeccionismo, arrastam a frustração pela vida e não fazem nada e afastam a Grande Magia de si. Elizabeth defende que, se você tem um sonho de vivenciar uma experiência artística, arrisque. Faça o que pode, com as ferramentas que tem, mas faça. É uma das partes do livro com as quais eu concordo totalmente.


Viver uma vida criativa não significa largar tudo para virar artista. É incluir um pouco de arte na rotina, no dia a dia, trazer mais significado para as horas de folga. Elizabeth cita o caso da escritora Toni Morisson, que acordava cinco da manhã para conseguir escrever antes de sair para o trabalho. Garantia sua dose de felicidade diária, realizava seu projeto criativo e vivia melhor cada dia. No fim das contas, é só isso mesmo. Uma horinha de felicidade e paz para aliviar o peso da vida real. Essa é a Grande Magia que Elizabeth Gilbert vive e defende: respirar criatividade todos os dias.

Foto do Socorro Acioli

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