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Relíquia macabra
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Relíquia macabra

A Marcelo Vasconcelos

 

E em meio a esta Copa do Mundo sem graça, sem tabela impressa dos jogos com marca de loja de eletrodomésticos, sem asfalto pintado de verde-amarelo e sem rua com bandeirinhas nas cores idem, surge a acachapante notícia da venda de uma das traves do Mineirão, aquela na qual os alemães, naquele fatídico 8 de julho de 2014, nos enfiaram cinco dos seus sete gols e nós apenas o de honra, naquela que foi a maior tragédia do futebol brasileiro, quiçá de todos os tempos. Informou-se que a rede da tal lúgubre baliza será dividida em 8.150 pedaços, cada um a ser vendido por 71 euros (quase R$ 320), numa alusão ao terrível placar daquele jogo. A meta ficará exposta no Museu do Futebol Alemão, em Dortmund. A grana será usada na saúde dos leprosos.

 

Quando a gente pensa que chegou ao fundo do poço, a realidade mostra que tudo pode piorar ainda mais. Não bastava os coxinhas terem destruído dois dos nossos mais caros símbolos nacionais, a camisa da cbf (em minúsculas, revisor, em razão de tanto vexame e roubalheira) e a bandeira do Brasil; nós teríamos que passar também por humilhações e perrengues ridículos, tais como o ao qual me referi no parágrafo anterior. E lá vamos nós todos de novo, com o supremo, com tudo (argh!), participar pela 21ª vez do campeonato mundial de futebol, aliás, somos o único país capaz de tal proeza até agora. Entretanto, o que se vê nos rostos é desinteresse, nos corpos, desânimo, e nos bolsos, liseira. Para que os sorrisos voltem às faces, carece mudar muita coisa.

Como não dá para passar batido, vou dar o meu pitaco no nosso escrete. Tite, para mim, está muito mais para pastor evangélico, coach motivacional que chora e faz chorar, do que para técnico de futebol. O time continua dependente do tal peladeiro, mau caráter, sonegador de impostos e metedor de atestado. Há jogadores que, pelo fato deles talvez nunca terem jogado em Pindorama, não passam de incógnitas, um ror de bonzinhos com seus passezinhos para lá e para cá e suas bolinhas centradas na área adversária. O zagueiro chorão é bom para jogar no Tears for Fears Football Club e só. Jogador de clube, atleta convocado contundido, protegidos, tem todo bicho de unha e chifre na equipe. Na minha opinião, falta craque, falta alguém que desequilibre, que faça chover.


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Quem sabe não seja mais o ludopédio a grande vocação do Bananão? Depois de tantos reveses e derrapadas, não estaríamos, talvez até inconscientemente, construindo para nós mesmos uma nova expressão? Fico pensando em um torneio mundial de safadeza e ladroagem e na onzena que poderia muito bem nos representar: temer; padilha, moreira, marun e geddel; cunha, maia e jucá; serra, aécio e alckmin, com “o de sempre” fhc como treinador, a marina dando uma de massagista, o bozonazi de segurança e o moro de juiz. Não ia ter para ninguém, era pule de dez. Seríamos campeões invictos por copas a fio. De volta à relíquia da trágica derrota, o que serve ao riso serve à lágrima. Ou, como dizia Eça, “sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”.

 

Por Romeu Duarte

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