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Bafafá no salão
Foto de Romeu Duarte
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Bafafá no salão


Festa importante no fim de semana, o elegante salão de beleza lotado. O corre-corre e a lufa-lufa de cabeleireiros, manicures e atendentes, enquanto a água, o cafezinho, o espumante e os canapés rolavam soltos. As duas amigas lado a lado, cada uma com seu espelho, dando um amplo, geral e irrestrito tapa nos visuais. “Querida, assisti de ponta a ponta o casamento real. Ainda estou emocionada!”. “Ponta?! Você está insinuando alguma coisa? Tudo bem que o noivo é filho do Duque da Cornualha, mas o rapaz me parece muito danadinho para ser passado para trás...”. “Querida, você sempre maldosa. Disse apenas que assisti à cerimônia inteira. Quanto luxo, quanta beleza!”. “Pois eu, naquela hora, estava abatendo um coelho lá em casa. Sabe como é, né, fome enorme”.


“Valha-me Nossa Senhora, você continua insaciável. Quando o fulano souber, cruzes... Mudando de assunto, foi um prazer ver a nobreza chegando nos seus Rolls Royce, a Capela de São Jorge repleta de gente refinada, a rainha e o príncipe consorte...”. “Sem sorte, você quis dizer, não? Pense num casal sem sal. Vi na TV ela olhando carrancuda para a noiva.

Parecia pensar: “Esse meu neto, ô cabra para dar valor a cunhã...”. Amiga, estou preocupada é com essa paralisação dos caminhoneiros. O País parado, sem gasolina e diesel, alimento se estragando e os revoltosos comendo quentinhas pagas pelos empresários. Onde já se viu isso?!”. “Lá vem você com política! Quero lá saber disso! Meu carro estando com o tanque cheio, tchau!”. “No dos outros, ok, né, meu bem?”.


“Não vou responder a sua provocação. Não posso me aborrecer. Raiva dá ruga e depressão. Voltemos ao royal wedding”. “Royal o quê?! Phyna você, não? Há pouco tempo, querida, royal para você era fermento de pão...”. “Não teve a menor graça. Adorei a Meghan. Altiva, bela, feliz, empoderada.

Que vestido era aquele, mulher?! Lindo!”. “Parecia coisa da Edméa Mendes. Ri muito da roupa da rainha, que ela deve ter pedido emprestada aos Teletubbies, e do chapéu da Camila, que parecia uma bandeja de algodão doce. Ridículas...”. “É que você não conhece haute couture, amiga”. “Arroto o quê?! Como diz o meu bom coelho, ai dentro! O mundo se acabando e você ligada em besteira. Já pensou a quantidade de pessoas, a uma hora dessas, sem ter como voltar para casa?”.


“Ai, ai, nem me fale”, cortou o coiffeur, “é hoje que eu só chego amanhã. Fico só imaginando o engarrafamento no Tabapuá, bebê”. “Você fica conversando e quase torou a minha franja.

Cuidado!”. “Gostei do “torou”, amiga, você voltou às origens...”, disse a outra, abrindo um sorriso irônico no rosto do cabeleireiro. “É, decidi: vou pintar meu cabelo da cor do da mulher do George Clooney. Deep Black. Ela estava arrasando no casório”. “Ok, depois você pega a vassoura e sai voando pela janela. Quer saber, queridinha? O combustível para botar o Brasil para frente está preso em Curitiba e eu não estou falando de carga, não”. “O quê? Você enlouqueceu?”. “Bem, se isso é loucura, meu amor, então acabei de enlouquecer.

Tchauzinho”. Desligou o secador, pagou a conta e foi ser feliz.

Foto do Romeu Duarte

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