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Carta ao dono do poder
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Carta ao dono do poder


A Maurício Lima e Ana Xavier


Exmo. Sr.


Marcos Willians Herbas Camacho Presidente Real do Brasil

 

Exmo. Sr. Presidente, Cumprimentando-o, dirijo-me respeitosamente à V. Exª, na vossa condição de verdadeira autoridade máxima deste país (bem, se é para sermos dirigidos por um bandido, que seja por alguém do ramo, profissional mesmo), para expor e discutir assuntos da maior gravidade. Como é do vosso conhecimento (e certamente já objeto de suas providências), o vampirão, ao descer do carro alegórico da Paraíso de Tuiuti, deu uma guinada de 180 graus e deixou de lado a reforma da previdência para decretar intervenção federal no meu, no seu, no nosso Rio de Janeiro. Longe de ter os votos necessários para aprovar na Câmara a odienta mudança, o Drácula do Porto de Santos, candidatíssimo apesar da estratosférica rejeição, criou uma tênue cortina de fumaça eleitoreira.

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Repasso-vos um cenário, aguardando vossa análise: um presidente corrupto, querendo faturar pontos nas favelas cariocas, um governador fuleiragem e perdido, um prefeito que prefere ficar em seu nirvana universal a enfrentar o inferno, uma polícia sucateada e desmilinguida, os bacanas, junto com as altas patentes militares, morando fora da linha de tiro, uma tropa despreparada que mora ao lado dos facínoras, uma quadrilha preparada com armas de ponta, uma mídia sensacionalista que não consegue construir uma candidatura, um nazista mão-de-jia que quer explodir os morros. E o povo amedrontado, correndo para lá e para cá. Quem ficar no meio desta barafunda vai sentir a violência na pele. Rio 40 graus, de sangue e braços abertos, ah, meu Redentor.


Disse certa vez Bertolt Brecht, autor de nossa preferência: “Vocês, artistas que fazem teatro em grandes casas sob sóis artificiais, diante da multidão calada, procurem de vez em quando o teatro que é encenado na rua”. Ah, Presidente Marcola (posso chamar V Exª assim?), como o nosso país a cada dia mais se parece com o quadro pintado por V. Exª quando de vossa prisão: “Vocês, intelectuais, não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Não há mais proletários, infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade”. A realidade, feito a rapadura, é dura, mas, diferente desta, não é doce.


Nestas alencarinas latitudes, a situação não é dessemelhante. De um lado, o Estado diz que tudo está sob controle. Do outro, a bandidagem metralha que “tá tudo dominado”. Tendo a concordar com os vossos soldados. A prova disso é a negativa do líder do governo na Assembleia quanto a apor sua assinatura na CPI do narcotráfico, por medo de expor sua família à maldade da turma do pó. A chacina do Forró da Bala, digo, do Gago, ainda está muito presente nas nossas tão fatigadas e assustadas retinas. Desse vosso retiro na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, em São Paulo, vós comandais, com finos e firmes cordéis, inúmeras legiões de fiéis em todos os rincões do Bananão. A uma ordem vossa, tudo se dá. Tal como dissestes, “estamos no centro do insolúvel”.


Cordialmente, Prof. Arq. Romeu Duarte Junior Cidadão e contribuinte

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